Ponte Preta e o escritório usado como refúgio por alguns culpados da atual crise no Brasileirão

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Não existe fenômeno tão pertencente dos nossos tempos do que o processo de catarse coletiva. Funciona assim: você pede determinada situação por certo espaço de tempo e quando acontece a comemoração efusiva é imediata. A impressão é que tudo está resolvido. Duro é observar que aquela fissura em cima de determinado personagem ou acontecimento tira os olhos para algo mais amplo e que as vezes é o real motivo das decepções.

O torcedor da Ponte Preta passou meses em um movimento para pedir a demissão de Gilson Kleina. Todos os males estavam concentrados no treinador. Um profissional com resultados louváveis no comando da Macaca. Terceiro lugar na Série B de 2011, Semifinalista do Paulistão de 2012, vice-campeão paulista de 2017…Impossível colocar debaixo do tapete uma trajetória tão retumbante de 152 jogos, a maior desde que Sérgio Carnielli chegou ao poder em 1996.

Concordo, o quadro era insustentável. O trabalho era ruim. Kleina não conseguiu encaixar o time após as saídas de William Pottker e Clayson. Agarrou-se a qualidade duvidosa dos volantes Naldo e Jadson e por outro não concedeu uma oportunidade para Jorge Mendoza. Errou na final do Paulistão ao escalar Fábio Ferreira. Pense, reflita e os equívocos vão aparecer. Aos montes. Argumentos sobram para justificar seu desligamento.

Assim como Gustavo Bueno pode ser cobrado pelas inúmeras contratações equivocadas e por sua postura apática nas entrevistas coletivas. Não ignoro: os recursos são escassos, mas não custava exibir um comportamento mais ambicioso, apesar das limitações financeiras.

Só que algo precisa ser dito. Um conceito precisa ser destrinchado e foi desprezado neste processo de linchamento virtual. Exagerado e desumano, diga-se de passado. Se Gilson Kleina errou no gramado e Gustavo Bueno equivocou-se nas contratações em grande parte é porque receberam o aval do comando supremo, ou seja, de quem estava no escritório ou gabinete com ar condicionado. Leia-se: o presidente de honra, Sérgio Carnielli, o presidente Vanderlei Pereira e dirigentes como Hélio Kazuo, Giovanni Di Marzio e outros componentes da diretoria executiva.

A deficiência no trabalho não surgiu sábado no jogo contra o Atlético-GO. O time mal treinado não ficou exposto no empate contra o São Paulo ou na derrota para o Sport. É algo que vem desde o início do Brasileirão. E ao defrontar-se com o obstáculo, a diretoria tinha dois caminhos. O primeiro seria trocar a Comissão Técnica e demitir o gerente de futebol durante ou no final do primeiro turno e apostar em vida nova.

A segunda alternativa seria os componentes da diretoria executiva entrar de cabeça no dia a dia do elenco, assistir aos treinos, discutir intensamente com a comissão técnica para buscar alternativas de jogo e viabilizar fórmulas para recuperar atletas e principalmente encarar os microfones dos veículos de comunicação para avalizar o trabalho e automaticamente servir de escudo aos funcionários da agremiação.

Não fez uma coisa e nem outra. Esses homens, consagrados e poderosos em seus ramos de atividade, sairam de cena e jamais se pronunciaram sobre os resultados ruins. Ñão adotaram qualquer atitude e deixaram seus funcionários – Kleina e Gustavo Bueno – serem massacrados  a luz do dia. Talvez o símbolo de todo esse processo seja a entrevista coletiva que anunciou a saída de Kleina. Enquanto Gustavo Bueno era submetido a uma metralhadora de perguntas, o diretor de futebol, Hélio Kazuo abraçava um constrangedor silencio.

Ainda acredito que a Ponte Preta tem potencial para fazer uma Série A digna e fugir do rebaixamento. Independente deste quadro, tanto a torcida quanto qualquer jornalista atento já chegou a conclusão de que os atuais dirigentes estatutários pontepretanos colaboraram muito para o atual estado de coisas. E que o gabinete, além de local de trabalho, serviu de refúgio para fugir das críticas de uma torcida que está cansada de sofrer.

(análise feita por Elias Aredes Junior)

4 Comentários

  1. Como cobrar ambição de uma diretoria e entenda SC se este afirmou com a própria boca que prefere uma permanência ao ambicionar o Grande sonho pontepretano de um Título …se este não sonha nossos sonhos então não deveria nos representar !!!

  2. nem time pra se sustentar conseguiu montar, ainda deixou irem embora Ravanelli, Matheus Jesus, Reinaldo, não renovou com Roger em sua melhor fase e perdeu Potker pra time de segunda. Quer o que?

  3. Em breve teremos eleições na Ponte, caberá aos eleitores pontepretanos dizer, democraticamente nas urnas, se querem escolher alguém que mantenha o atual cenário que já dura uns 20 anos e que pouco ou nada produziu em termos de triunfos, ou escolher alguém diferente, que seja ambicioso, capaz de ouvir a voz rouca das arquibancadas e promover mudanças na forma de administrar o Clube.