Ponte Preta, pressão, saúde mental e os desafios colocados para o Jornalismo Esportivo

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Quando comecei o meu trabalho como setorista do jornal Tododia, em agosto de 2008, um fraterno colega de profissão me deu uma dica: “não desgrude da Ponte Preta.  É lá que tudo acontece”. Pura Verdade. Posso dizer que acompanho clube na seara profissional de maneira ininterrupta desde esta época.

Vitórias, derrotas, disputas de poder, conquistas, revelação de jogadores, atletas que não deram em nada…Para quem deseja exercer o ofício do jornalismo esportivo, a Ponte Preta é um espaço fascinante. Vale até como tese sociológica.

Nestes quase 14 anos, o debate na Ponte Preta cresceu no mesmo ritmo das redes sociais. O torcedor, antes distante e apenas a arquibancada como espaço para exercer sua voz, ganhou um poder incomensurável. Basta dizer que Ricardinho e Adilson Baptista só não assumiram como treinadores por causa dos alaridos que saíram dos teclados e dos posts publicados de maneira incessante. É uma nova realidade. Que todos precisam se acostumar.

É o exercício da democracia. Na veia. Nas 24 horas do dia. E que ganhou contornos drmáticos após a péssima campanha no Campeonato Paulista. O julgamento é incessante, constante, ácido e definitivo.

É bom que algo seja dito: toda opinião tem valor. Toda análise pode e deve ser respeitada. Se você acha que apenas o presidente Marco Antônio Eberlin tem que ser cobrado, xingado e responsabilizado, ok. Sem traumas. Agora, se outros trilharem pelo caminho de realizarem uma análise aprofundada dos acontecimentos e considerarem que Eberlin tem uma boa parcela de culpa, mas que outros podem e devem ser citados, é uma análise que deve ser creditada e aprovada.

A cobertura na Ponte Preta nos últimos anos é uma prova de fogo para qualquer jornalista esportivo que queira trabalhar com retidão, afinco e honestidade. No fundo, no fundo, somos considerados cidadãos de segunda classe por muitos torcedores. Como não termos a paixão como elemento de análise, somos desqualificados e trucidados. Colocados contra a parede. Está aí mais um motivo para que qualquer jornalista esportivo diplomado e capacitado jamais revele em público o time para o qual torce. Não pode e não deve abrir espaço para a violência inconsequente e a suspeição infantil e infundada.

Como tento pautar minha conduta profissional pela transparência, honestidade e retidão, quero deixar claro: enganam-se aqueles que acusam este jornalista de “passar pano” para a atual diretoria comandada por Marco Antonio Eberlin. Já disse e escrevi por inúmeras vezes que o trabalho é decepcionante, que as contratações foram equivocadas e que a exclusão de um caminho da modernidade e da capacidade de gestão são opções erradas e equivocadas. Mesmo que ele venha apresentar argumentos contrários com a intenção de desqualificar meus argumentos, eu não me importo. Interessa-me muito mais o acumulo que tive na carreira jornalística e me fez chegar a tais conclusões do que os dardos que venham a ser jogados.

Sim, torcedor, você tem todo direito de sentir magoado, chateado, revoltado e indignado com a campanha da Macaca na Série A-1 do Campeonato Paulista. Tem total direito de eleger apenas Marco Eberlin como culpado. Ou de escolher vários vilões.

Mas saiba: o jornalista esportivo que deseja o bem da Ponte Preta só tem um caminho a seguir: um jornalismo critico, apartidário e independente. E isso muitas vezes cobra  a nossa vida até de maneira pesada e atinge a saúde mental, física e profissional de imprensa. Basta verificar os altos índices de depressão, síndrome de pânico e ansiedade na categoria. Todos são atingidos. Inclusive aqueles que militam na imprensa esportiva. Independente de sua opinião, torcedor pontepretano, pense nisso na próxima vez em que utilizar o teclado para depreciar ou humilhar um profissional de imprensa. Que só o melhor para um clube centenário, histórico e popular.

(Texto de autoria de Elias Aredes – Foto de Lucas Figueiredo-Pontepress)