Por que o DNA do futebol campineiro sumiu da Seleção Brasileira?

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O Brasil venceu a Argentina por 3 a 0 e estabeleceu uma lua de mel com a população brasileira. Uma vitória convincente e capaz de gerar um sentimento de pertencimento aos torcedores do seus clubes. Apesar de atuarem no exterior, é impossível o torcedor santista evitar aflorar um sentimento de orgulho ao ver Neymar em campo enquanto que o vascaíno pensa como poderia ter desfrutado mais de Phillipe Coutinho. O que dizer então de Paulinho, autor do terceiro gol? O corinthiano está exultante e com toda a razão. Neste momento, é de se pensar como Ponte Preta e Guarani saíram da condição de protagonistas com a camisa da Seleção Brasileira e entraram no limbo da história.

Deveria ser motivo de preocupação. A deterioração é clara. Em 1978, o Brasil tinha no seu elenco Oscar, revelado pela Ponte Preta e Amaral, forjado nas categorias de base do Guarani. Quatro anos depois, Oscar estava presente mas Careca por um triz não fez parte do esquadrão montado por Telê Santana.

Em contrapartida, o atacante histórico do Napoli “bateu cartão” nas copas do México e da Itália. Júlio César e André Cruz também defenderam o escrete canarinho em Copas do Mundo, assim como Luis Fabiano. Todos tinham o DNA de formação do Brinco de Ouro e do Moisés Lucarelli. O que houve para que em um passe de mágica, os dois clubes simplesmente deixassem de ser referência de produção para o time com maior número de títulos mundiais do planeta? Podemos apontar uma história longa, desencontrada e cheia de desentendimentos.

Primeiro é aceitar algumas conjecturas presentes no futebol atual e que não estão ao alcance de Ponte Preta e Guarani para modificar. Nas décadas de 1970, 1980 e 1990 o futebol já gerava recursos e forjava milionários, mas existia uma chance de que um time mediano ou pequeno conseguisse formar o jogador por completo e usufrui-lo por um bom período entre os profissionais. Careca atuou no Guarani por quatro anos antes de se transferir para o São Paulo enquanto que Oscar foi vice-campeão paulista por duas vezes (1977 e 1979) antes de se transferir ao Cosmos de Nova York. Mesmo envolvido em uma intrincada transferência na década de 1980, André Cruz atuou por alguns jogos com a Ponte Preta? Esses três casos mostram jogadores que bem ou mal formaram vínculos com as arquibancadas. E no caso de Oscar e Careca atuaram com a camisa da Seleção Brasileira com a camisa dos clubes de Campinas. Outros tempos? Concordo.

A revisita ao passado não pode embaçar a visão sobre alguns diagnósticos precisos. O principal é a incompetência de Ponte Preta e Guarani para na atualidade utilizar as categorias de base para revelar jogadores com potencial para atuar na Seleção Brasileira. Gente com 18 ou 19 anos já se mostram extraclasse. Existem bons valores? Não há dúvida. Matheus Jesus pela Ponte Preta ou Wesley no Guarani mostram que ainda há espaço para atletas de bom potencial técnico, mesmo que a priori não exibam um potencial para vislumbrarem aparecimento com a camisa amarela. Podem evoluir para alcançar tal patamar? Podem. Mas esta não é a realidade.

O que acontece para o extraclasse ter desaparecido? Apontar a concorrência desleal de estrutura de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos é parte da explicação. De um jeito ou de outro, o trabalho de categorias de base nos dois clubes mudam de metodologia ao sabor dos ventos e isso impede um trabalho contínuo, de evolução e que proporcione a revelação do atleta acima da expectativa.

Quantas vezes a Ponte Preta já mudou o comando das categorias de base nos últimos anos? Quais foram as oportunidades nesta década em que a Macaca conseguiu revelar um jogador capaz de ganhar jogos, empolgar a torcida  e gerar dividendos polpudos? Você pode alegar: mas tivemos atletas pontepretanos convocados para seleções de base. É verdade, mas todos na condição de coadjuvantes. Não brilham de modo efusivo.

E o Guarani? A crise política arrebentou com uma mina de ouro. Se analisar com parcimônia, as revelações foram viabilizadas, mas também na condição de atores de segunda linha. Gabriel Boschilla, Léo Citadini, João Guima…Todos jogadores com bons predicados, é verdade. Mas pense. Reflita. Responda para si mesmo: você consegue imaginar alguns desses atletas daqui alguns anos como integrantes da Seleção Brasileira? Difícil.

O mundo mudou, o futebol ficou excludente e os clubes médios e pequenos comem o pão que o diabo amassou. É verdade. No entanto, Ponte Preta e Guarani precisam resgatar as suas origens e realizar um trabalho orgânico de médio e longo prazo para que valores acima da média apareçam e que no futuro possam carregar o DNA bugrino ou pontepretano pelos gramados do mundo. Inclusive na Seleção Brasileiro. Não custa sonhar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)