Quando a Ponte Preta interfere no destino de uma família

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A Ponte Preta forjou-se por intermédio de uma saga. Que completa nesta quinta-feira (11) 116 anos. Clube popular, de massa e formada por gente fanática. Apaixonada por uma agremiação que ultrapassa as paredes do Majestoso. É um sentimento. Responsável por formar e auxiliar na formatação de histórias, enredos e famílias.

Este jornalista, mesmo que indiretamente é testemunha deste fenômeno. Os Aredes tem sua história ligada a Ponte Preta. A Macaca, ou a Nega Véia como queiram foi preponderante para a afirmação na cidade de uma família disposta a vencer e triunfar.

Meu finado pai e irmãos nasceram em Guarantã, cidade do interior de São Paulo. Adolescentes ou jovens, arrumaram as malas e sairam em busca de sua própria trajetória. Aportaram em Campinas no final da década de 1950. Construiram família, firmaram laços de amizades e em alguns casos adotaram a Ponte Preta não só como paixão, mas como o cordão umbilical que lhes deixavam ligados a terra das Andorinhas.

Assim era meu tio Oady. Antes de chegar em Campinas não tinha time de futebol. Adotou a Ponte Preta. Negro, esguio, fala suave e consciente da necessidade de transmitir conceitos que hoje parecem fora de moda: honestidade, firmeza, solidariedade ou pura e simplesmente paixão naquilo que se faz.

Com a Ponte Preta não era diferente. Acompanhava o time. Torcia. Sofria. Nossas conversas giravam em torno das agruras e decepções vividas com a camisa alvinegra. Não desistia. Nunca. A Ponte Preta era de certa forma um sacerdócio. Vivido com discrição e intensidade. 

O tempo passou, Oady abriu horizontes e seus irmãos seguiram seu exemplo e desembarcaram em Campinas: Elias, Joel, Enoch, Nabal e Francisco. O primeiro é meu pai. Não, não torcia para a Macaca. Só que em suas inúmeras histórias sobre futebol nunca esquecia de mencionar que estava no Majestoso no dia em que a Macaca perdeu da Portuguesa Santista, em 1965 e viu o sonho do acesso escapar. Naqueles idos da década de 1960, o seu coração ficou dilacerado. Um ato de solidariedade e compaixão para uma torcida de um clube fixado em uma cidade lhe acolheu tão bem.

Com Enoch – proprietário de uma banca de revistas no centro da cidade – , Nabal e Francisco o sentimento permanece. Perdi a conta das vezes que presenciei estes três senhores hoje acima dos 70 anos descrevendo em minúcias as caravanas feitas na divisão de acesso e que tinham um tempero de rivalidade intensa.

Em Jundiaí a garantia era de que qualquer ônibus nunca voltaria são e salvo, tamanha a rivalidade com o Paulista. Motivo para desistir? Esqueça. Por que torcer para a Ponte Preta era, antes de tudo, um ato de fé.

Fé capaz de transmitir e forjar relatos históricos. De geração para geração. Uma semente proveniente do coração e talhada para fixar paixões que parecem eternas, infinitas.

Sim, eu reclamo da cidade de Campinas. Não me conformo da sua injustiça social, frieza com visitantes, dificuldades vividas pelos pobres e um provincianismo que por vezes parece insolúvel. O destino é tão caprichoso que no meio deste mar de problemas, existe ainda um patrimônio forte, destemido e capaz de influenciar e forjar relações perenes. Por 116 anos. Os Aredes, do qual sou um representante, não dá apenas parabéns a Ponte Preta. Agradece. Por provar dia após dia que um clube pode ser capaz de revelar sentimentos nobres e de afeto onde parece existir apenas distância. Parabéns Ponte Preta!

(artigo escrito por Elias Aredes Junior)

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