Radicalização da democracia: um presente de aniversário para o Guarani

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Quem faz aniversário merece presente. É assim que reza a tradição nos países ocidentais. O Brasil não poderia fugir a regra. O Guarani, aniversariante deste sábado, com 105 anos de existência, tem muito para comemorar e celebrar. Viveu uma época de ouro, de 1978 a 1988, quando arrebatou a Taça de Ouro, Taça de Prata, vice-campeonato Paulista, Brasileiro e três participações na Copa Libertadores.

Hoje, o clube está combalido financeiramente. Destruído por anos e anos de administrações temerárias. Busca o reerguimento na Série A-2 do Campeonato Paulista. Precisa vencer o Barretos para disputar as quartas de final. Mas este é presente desejado pelo torcedor bugrino? Sim, mas o torcedor que enxerga longe, com visão de médio e longo prazo tem outro presente em mente. Um presente que, se aberto por qualquer pessoa, certamente fará com que o clube viva dias melhores e desfrute de um ambiente mais feliz e saudável. Resumo tudo em uma expressão : radicalização da democracia.

A divergência como combustível de crescimento

Não, não caia na tentação de definir democracia apenas e tão somente como o processo eleitoral para escolha dos integrantes do Conselhos de Administração, Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal. Democracia vai muito além disso. Democracia é a viabilização da presença de todos dentro do mesmo espaço. É a permissão de que vozes contrárias possam falar, divergir, contestar e serem respeitados. Qualquer voz. Qualquer ideia. Que pensamentos divergentes estejam presentes e ocorra felicidade, prazer em encontrar-se no espaço.

Ninguém precisa ser inocente para verificar que atualmente o Guarani é um clube com espirito entristecido. Muitas pessoas vivem uma vida de exílio em relação ao clube. Não podem exercer um preceito sagrado dentro da Constituição, que é a Liberdade de Expressão. Figuras históricas sofrem, torcem e vibram pelo Guarani com um ar de tristeza. O coração sangra. Não por derrotas ou empates mas por que não podem dizer aquilo que pensam sobre sua verdadeira razão de viver.

Olho no futuro

A diretoria, os atuais componentes do Conselho Deliberativo dizem o contrário? Defendem de que existe espaço para todos? Respeito, entendo, mas tenho dificuldade em concordar. Quem conhece o ambiente sabe que figuras históricas estão afastadas do dia a dia do clube. Querem auxiliar, ajudar com sua colaboração, mas não se sentem a vontade. Sentem-se constrangidas em querer emitir uma opinião que, ás vezes, tem total discordância com a atual orientação política e administrativa. Mas querem ajudar. Só isso. Não podem. Parece existir um incômodo com opiniões divergentes. Detalhe: não é de hoje. O atual quadro apenas aprofundou um procedimento utilizado por outros grupos políticos que ocuparam o clube anteriormente.

Futebol blindado ou adversário dos jornalistas?

A blindagem e a resistência em aceitar o contraditório resvalou no futebol. O trabalho da imprensa teve obstáculos na Série A-2 do Campeonato Paulista. Em diversas vezes, jogadores e integrantes da comissão técnica não foram liberados para as entrevistas coletivas. Preservar os jogadores? Pode ser. Mas penso comigo: será que o torcedor não deseja saber o que o atleta e o treinador pensam para vencer determinada partida? Ou a visão em relação a determinado episódio? Pois é. Muitas vezes temos o desejo de marcar um golaço e realizamos um autêntico gol contra. O método pode dar certo? Pode dar tranquilidade para o Guarani buscar o acesso? Sim, pode. Mas que seria mais salutar um relacionamento mais aberto e com consciência das dificuldades dos profissionais de imprensa, não há duvida. 

O Guarani é maior do que qualquer homem. É superior a qualquer grupo. Tem dimensão e mais pujança do que qualquer salvador da pátria. O Guarani quer e precisa da presença de todos. Mas sem tolerância, amor, fraternidade, abertura e democracia, a missão fica muito mais difícil. Que esta reflexão gere no futuro o presente que o Guarani merece.

(análise feita por Elias Aredes Junior)