O Guarani gosta da democracia?

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Após a vitória contra a Portuguesa por 3 a 1, o reporter do Sportv dirigiu-se ao zagueiro Thiago Carpini e perguntou sobre o veto as entrevistas coletivas antes dos jogos implantadas pelo presidente Horley Senna. Visivelmente constrangido, o beque disse que era uma ordem da diretoria e que lhe cabia apenas obedecer.

Na entrevista coletiva, o técnico Pintado deitou explicações, comemorou e não teve chance de receber uma pergunta mais ácida caso alguém desejasse. O motivo: eram apenas duas perguntas por veiculo de comunicação.

Clubes de futebol não são feitos apenas de vitórias, derrotas e empates. Ou de ídolos forjados a partir dos gramados. Um clube de futebol é, antes de tudo uma ideia, um conceito utilizado para atrair determinados nichos da sociedade. O Vasco da Gama firmou-se como marca de excelência após aceitar jogadores negros. O Corinthians transformou-se em uma agremiação de Vanguarda com a democracia corinthiana, instituída pelos jogadores. No Fluminense, a história é ligada a aristocracia carioca, suas virtudes e seus defeitos. O Palmeiras, por sua vez, teve sua história construída em cima da identificação com a colônia italiana.

Cada um tem sua marca e buscam passar a impressão de serem abertos ao diálogo, ao escrutinio da imprensa? Falham, é verdade, mas tentam. Apesar da tentativa de boa fase, cabe a pergunta: o Guarani gosta da democracia?

Quando digo isso não falo só da atual direção. Quase todos os ex-presidentes que passaram no clube abraçaram uma postura de confronto e de cerceamento da opinião. Dentro e fora do clube. Se a mordaça não era com a imprensa, em outro momento era com grupos oposicionistas. De certa forma não deveríamos criticar somente Horley. Ele só aprofundou a cartilha de Leonel Martins de Oliveira, José Luís Lourencetti, Beto Zini (que sufocou a oposição nos seus 11 anos de gestão), Álvaro Negrão e Marcelo Mingone.

Sim, tenho conhecimento de que o clube tem neste domingo eleições para o Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal. De nada adiantará contar cédulas, apontar vencidos e vencedores se o Guarani ainda não vencer o DNA autoritário no seu corpo. Deu certo a presença de apenas um grupo politico no comando do clube de 1969 a 1988 por um aspecto: víviamos uma período ditadorial, as instituições estavam sufocadas e oposição era uma concessão e não uma presença natural.

Apesar do desejo de alguns, os tempos mudaram. Instituições de interesse público como o Guarani não podem adotar o cerceamento como prática de gestão. Independente de quem esteja no poder, o entendimento precisa caminhar no sentido de buscar uma maneira de que o diálogo dentro e fora da sociedade fique normalizado e que as regras não fiquem estipuladas de acordo com o resultado de plantão.

Os jogadores bugrinos, por sua vez, precisam entender que estão em um clube com milhares de torcedores e que desejam acompanhar passo a passo um processo de reconstrução que antes parecia distante.

A democracia e a liberdade de expressão são os caminhos. Que o Guarani pegue essa estrada e nunca mais procure o retorno.

(Análise feita por Elias Aredes Junior)