Quase todo brasileiro gosta de futebol. É o esporte das multidões. Paixão incontrolável. Move pessoas a cometer atos aparentemente insanos. Tais características se encaixam em qualquer torcedor. Na Ponte Preta então nem se fala. Os gestores do futebol profissional deveriam entender alguns conceito. Queiramos ou não, a prioridade de quem está na arquibancada é ver a bola na rede. Vitórias. Títulos. A construção de ídolos intocáveis.
Na ânsia de querer agradar e transmitir ares de modernidade, a atual diretoria da Ponte Preta, certamente aliviada pela boa fase no Campeonato Brasileiro, comete um erro de gestão. Com a melhor das boas intenções, diga-se de passagem. Ela pensa e acredita que o apaixonado pela Ponte Preta gosta de assistir e não de torcer pela Macaca. Sim, são dois conceitos diferentes.
Quem gosta de assistir futebol é adepto do puro entretenimento. Atrações, eventos e atividades que passam ao largo daquilo que acontece fora das quatro linhas. Não preciso listar neste espaço os diversos eventos ocorridos dentro do Estádio Moisés Lucarelli e que fogem do espirito de um time de futebol.
Tudo estaria certo se o torcedor pontepretano tivesse o comportamento de um fã de NBA ou NFL. Quem acompanha estes esportes aprecia as entradas apoteóticas dos atletas, as dançarinas a beira da quadra em coreografias com foco no incentivo. Ou o locutor ávido por evocar palavras de ordem.
A pessoa torce, é verdade, mas antes de tudo, ela consome entretenimento. Se ocorrer uma derrota ou perda de título o baque não é acachapante. No dia seguinte, todos estarão a postos para exercerem suas funções profissionais.
No Brasil, o perfil é diferente. No caso do pontepretano, dispensa explicações. Quem senta nas arquibancadas do Majestoso nem quer saber do evento especial que acontecerá daqui a 15 ou 20 dias. Seja uma corrida de rua ou uma degustação de sanduíche. É legal, prazeroso, divertido, mas não é e nunca será prioridade. Nem como entretenimento o torcedor encara e sim como um congraçamento ao lado de sua turma, de sua patota. Se fosse apenas diversão imediatamente convidaria adeptos de outras torcidas. Está longe disso virar realidade.
No fundo, no fundo, o pontepretano fica desesperado é pelo gol do Wellington Paulista, o corte do zagueiro Douglas Grolli, a jogada de efeito de Ravanelli, a cobrança de falta de Reinaldo ou uma defesa portentosa de João Carlos. Seu foco é torcer, desesperar-se e rezar para que tais peripécias convertam-se em vitórias, melhoria na classificação e no final do ano em uma posição honrosa de acordo com a história e tradição do clube. O sentimento surge porque futebol não é entretenimento. É caso de vida ou morte. É o passaporte para viver um dia seguinte prazeroso e pronto para gozar o amigo ou colega rival ou uma tortura em caso de derrota. Concordo com tal visão? Não. Só que devemos trabalhar em cima da realidade e nunca sobre aquilo que desejamos.
O pontepretano não quer assistir futebol. Ele quer torcer. E só pede que os homens responsáveis pela condução do clube compreendam tal comportamento e gastem suas energias para aquilo que acontece no gramado. Entretenimento? Um churrasco no quintal de casa para comemorar uma vitória é mais do que suficiente.
(análise feita por Elias Aredes Junior)