Dizem que o torcedor do Guarani é prepotente. Arrogante. Anda de nariz empinado apesar da péssima fase técnica e administrativa. Estas são as frases que mais ouço não só de pontepretanos, mas de torcedores de outros times. Acreditam que o título brasileiro de 1978 ou a Taça de Prata de 1981 não seriam motivos para destilar superioridade sobre os outros.
É assunto complexo. Tem relação com personalidade coletiva. Mudança de foco e aceitação da realidade. Tire a torcida de sua mente e coloque-se no lugar de alguém que um dia foi rico. Tinha à sua disposição carros de luxo, casas suntuosas, mordomos, empregados e toda gama de mordomias.
Um belo dia, a família perde tudo e precisou residir em um bairro de classe média baixa. Não ficou na miséria absoluta. Só passou a conviver com os problemas e dramas encarados pela maioria: falta de ônibus, asfalto precário, saúde deficiente, escola pública sucateada…
Pode melhorar? Pode. E deve. Só que aquela família, outrora no comando do topo da pirâmide, precisa encarar a verdade. Deverá lutar como qualquer outro habitante para retomar parte do glamour que um dia teve.
Queiramos ou não, esta é uma realidade vivida por parte da torcida e de dirigentes do Guarani. Não me refiro aqueles que comparecem ao Estádio Brinco de Ouro. Mas muitos deixaram de acompanhar a equipe porque exibem resistência em assumirem a atual condição financeira e técnica. Sequer entendem porque aquele que um dia levantou taça agora perambula pela terceira divisão.
Recebe de braços e mentes abertas um discurso alienante, manipulador e que tenta convencer de que o Guarani ainda tem o poderio financeiro e técnico de 2004, último ano em que jogou as divisões principais do Brasileirão e do Paulistão.
Dá para acreditar em dias melhores? Sim, lógico. Só que não há como pensar em futuro sem aceitar o presente. Que para alcançar a Série B tem que aceitar a condição de disputar a terceirona, com suas mazelas, desafios e oscilações na tabela.
O torcedor deve celebrar a história bugrina. Ali existe uma galeria de heróis como Djalminha, Evair, Amoroso, Luizão, Clóvis, Ailton Queixada, Sandoval, Edu Lima, entre outros. Só que por sua atual condição financeira é impossível contar com atletas atuais de idêntico calibre técnico e financeiro.
Hoje, a vitória passa por Pipico, Renato Henrique, Deivid…Jogadores limitados sim senhor, mas que se constituem no único caminho para a retomada da dignidade do clube. Do que adianta queimar a credibilidade destes atletas se não há possibilidade de viabilizar outros de melhor qualidade? Não seria salutar incentivar e apoiar? Não falo novidade. Torcida e dirigentes já tiveram uma postura sensata e colheram dividendos. Quando? Em 2008 e 2009, ocasiões em que times guerreiros e humildes fizeram o Guarani chegar a Série A em 2010.
Prepotência? Arrogância? Não consigo cravar qual o comportamento prioritário na torcida bugrina. Mas algo doloroso precisa ser dito: o passado conforta, mas não joga.
(análise feita por Elias Aredes Junior)