Soberba e preguiça, os pecados capitais que atormentam a Ponte Preta

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Alguns fatos são difícieis de esconder. Sérgio Carnielli virou o “vilão” nesta história intrincada chamada Ponte Preta. Tempo excessivo no poder, dificuldade de comunicação rotineira com a mídia e a ausência de resultados expressivos nos últimos dois anos fizeram o atual grupo político ficar em uma autêntica corda bamba, com caminhada a passos acelerados e com uma bomba prestes a explodir.

O que acontece? O que motivou tamanha reviravolta? Os resultados não explicam por si só. Afinal, no ano passado, a Macaca ficou na 11ª posição, a melhor de sua história no Campeonato Brasileiro com pontos corridos e participação de 20 times. No Paulistão, se não esteve próximo do título também é verdade que em poucos instantes flertou com o rebaixamento. Fixou-se como a quinta força do estado de são paulo e carrega o ônus e o bônus deste legado. Repito a pergunta: por que o reconhecimento não aparece? A presença de dois conceitos explicam a atual conjuntura: soberba e preguiça.

Sim, as palavras parecem fortes. São dois pecados capitais. Peço sua paciência e entenderá em que ponto desejo chegar. Em relação a soberba, se você checar no dicionário ou qualquer texto elucidativo a respeito do assunto verá que o significado revela um sentimento de pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, o que produz manifestações ostensivas de arrogância, por vezes sem fundamento algum em fatos ou variáveis reais.

Na Ponte Preta, tal conceito está presente em alguns acontecimentos e procedimentos. Por estar há quase 20 anos no poder e sem uma oposição ostensiva com forte atuação politica no Conselho Deliberativo e com inserção na mídia, Carnielli e seu grupo político, mesmo que inconscientemente, tomam medidas ou dão declarações que exibem um certo desleixo em prestar contas ao torcedor e a opinião pública. Pode ser uma impressão errada? Pode. Mas é o que parece.

Dois exemplos ocorreram nos últimos dois dias. O passo inicial foi dado pelo técnico Eduardo Baptista que, após a derrota para o Coritiba, ao invés de focar sua análise nos erros e problemas da equipe tentou, mesmo que de modo suave e cordato desqualificar jornalistas e torcedores insatisfeitos com a campanha feita pela Macaca. Foi como que se indiretamente a mensagem estivesse contida nas entrelinhas: “Quem fala de futebol sou eu, a direção de futebol e quem está aqui dentro. Fora daqui, nada tem valor”. Não, Eduardo Baptista jamais disse literalmente tal declaração que está entre aspas. Só que sua análise após o revés deixou o conceito evidenciado. Fato.

O fecho ficou a cargo do presidente de honra Sérgio Carnielli, que em entrevista a Rádio Bandeirantes na segunda-feira à noite teceu duras críticas ao técnico Jorginho, vice-campeão na Copa Sul-Americana. Uma clara tentativa de trincar a idolatria que reina na torcida pontepretana com o treinador.

Uma postura de quem infelizmente não entende as razões e o sentimento das arquibancadas em relação a um técnico que, queira ou não, buscou um título. Contra tudo e todos. Jorginho demonstrou nos poucos meses em que esteve no Majestoso um entendimento claro daquilo que a torcida quer. Não são apenas vitórias. Nem títulos. Mas que entenda o seu sofrimento e angústia e lute para curá-lo. Inconsciente e involuntariamente, com esta frase, Carnielli exibe desconexão ao sentimento e a ambição do torcedor, um traço por vezes presentes em atitudes soberbas. Seria de bom grado que ele acordasse.

Ao acordar o presidente pontepretano teria a chance de dinamitar o outro pecado capital presente no Majestoso: a preguiça. Viaje por qualquer obra literária e vai constatar que preguiça tem como definição clássica a aversão a atividades que mobilizem esforço físico ou mental. Mais: direcionar seu foco a objetivos a fins que não envolvam maiores esforços.

Sejamos sinceros: disputar título dá trabalho. Envolve investimento, planejamento e no caso de um clube de orçamento curto como a Ponte Preta um direcionamento na busca de novos talentos capazes de explodir e fazer a diferença. Foi o que aconteceu com o São Caetano em 2004 ao faturar o Paulistão. A receita aplicada pelo Santo André em 2004 e pelo Paulista de Jundiaí em 2005. Ou até mesmo com o América Mineiro neste ano ao faturar o Estadual.

Qual o cenário de hoje: o esforço, a luta e o foco da atual diretoria da Ponte Preta é deixá-la onde está. Avançar não é prioriedade. Ficar em segundo, terceiro ou quarto lugares? Ótimo, porque dá vaga na Libertadores. E o 11º lugar, 16º lugar? Também é bom do mesmo jeito. Afinal, garante permanência. do primeiro ao 16º lugar tudo parece do mesmo tamanho. 

O jornalista reconhece a disparidade cotas pagas pela televisão. A limitação orçamentária que impede a contratação de reforços de vulto. Mesmo assim, não existe dentro do atual grupo político que comanda o clube e nem mesmo na diretoria um “brilho no olho”, uma ansiedade e vontade de surpreender, de ir além. O sentimento pode existir e nada acontecer ? Sim. Mas encarar o Campeonato Brasileiro como um ponto comercial em que o vital é sobreviver e nunca vencera concorrência, é algo que colabora é muito para o atual quadro.

O ideal seria a construção da preguiça positiva. Ou seja, a preguiça de abraçar a derrota, incompetência e a falta de ambição e assim o surgimento de uma vontade  de ousar, romper barreiras e fazer história. Essa vontade já está nas arquibancadas. Falta brotar nos gabinetes.

(análise feita por Elias Aredes Junior)