O dérbi e as vitórias e derrotas da vida. Por Elias Aredes Junior

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Na terça-feira escrevi um texto sobre o médico Danilo Villagelin, falecido em 2017. Pontepretano histórico. Um herói que testemunhou a trajetória de superação da Ponte Preta nas ruas e nos gramados. Minutos depois, as mensagens chegam no meu celular. Danilo, Ricardo e Ana Laura. Os filhos de Danilo Villagelin. Mensagens carinhosas de agradecimento e reconhecimento.

Ao ler os textos, em uma cama distante da minha casa, eu chorei.. Por que jornalista é feito de carne e osso. Tem feridas. Não é fácil a dura missão de criticar aquilo que as pessoas têm como paixão. É, antes de tudo,  espinhoso.

Um afago, um carinho e uma declaração no estilo “poxa, que legal, você acertou” é algo que não tem preço. Impossível mensurar o valor.

Sentimental? Correto. Porque o jogo mais importante da cidade de Campinas eu não consigo viver e sentir por completo sem não tiver gente por perto. São os companheiros de trabalho, o torcedor que lhe conhece, o ouvinte que não gosta de você, mas quer lhe entender…Gente.

Viver um derbi em solidão é a vida lhe impondo prisão perpetua na alma. É ser obrigado a aceitar o fracasso, o revés, a inaptidão para viver em sociedade e da maneira que ela determina Como qualquer área da vida, jornalista esportivo precisa sentir confiança para executar sua tarefa. Não é fácil dia sim, dia não, você ouvir de pessoas queridas, de um jeito ou de outro a sentença: “Você faz tudo errado, nada dará certo”. Dói.

As dúvidas aparecem, as perguntas ficam no ar: por que devo pensar como os outros? Porque preciso seguir a maioria? Não posso pensar em caminhos alternativos para transformar Ponte Preta e Guarani em algo pujante como nos velhos tempos? Por que devo ser pasteurizado? Por que a exclusão é o premio para quem pensa diferente? Qual o pecado de buscar aquilo que está longe do lugar comum?

Se as pessoas que frequentam determinado ambiente te excluem, é inevitável você abraçar um exilio. Proteger para não morrer. Um companheiro de profissão perguntou se tinha vontade de ir ao estádio no sábado e minha resposta: nenhuma vontade. Segundos depois, nem eu acreditei. De certa forma, o meu coração aceitou a sentença imposta pelo sistema e seus integrantes e se até colegas e amigos acham que dificilmente eu acerto, por que continuar? Alguns já disseram: “Desista. Isso não é para você”.

Não deveria escrever tal depoimento em véspera de clássico? Concordo. Só que no segundo seguinte, eu tenho a lembrança de Brasil de Oliveira. Quantas e quantas noites, ele, no interior do seu quarto de hotel chorou sozinho, dolorido por dentro por sofrer a exclusão, o preconceito e o desprezo de seus próprios colegas de profissão? Pensava diferente. Queria algo novo. Imagino o que sofria  Almeida Neto, da Rádio Central, por causa de sua paixão pelo Guarani e a luta interna que travava com a balança e o preconceito velado.

Sábado é dia de festa. Repórteres, narradores e comentaristas vão fazer loas ao grande jogo, dirigentes vão dar mil depoimentos e o mundo mágico vai surgir. Perfeito. Sem máculas. Não haverá estraga prazer para expor a verdade, a transparência ou aquilo que é o real sentido do jogo.

Não sei o que vou sentir. Como vou retratar. De algo podem ter certeza. É por causa de gente como Danilo, Ricardo e Ana Laura que me faz seguir em frente e crer que um dia algum amigo ou torcedor vai chegar e me dizer: “Que legal dessa vez você mais acerta do que erra”. A fé é o combustível da alma. É nisso que acredito.

(Elias Aredes Junior)