Especial- Michele Masotti, jornalista, bugrina: um clube que define minha vida!

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Era década de 60 e ele era conhecido como Tatau, vulgo meu avô materno. Chegou a vestir a camisa alviverde, mas a carreira como jogador foi curta e depois tornara-se dirigente do clube. Viveu e conviveu com presidentes e jogadores que fizeram história no Guarani. Era muito comum meu avô ligar em cima da hora para a minha avó Geni para comunicá-la que em 15 minutos a delegação estaria chegando para o almoço. Ele se foi em 1981 e eu sequer tive a oportunidade de conhecê-lo, mas deixou um legado que eu levo e sempre levarei comigo.

Vivi sob a influência de uma mãe bugrina e um pai pontepretano, funcionário de Sérgio Carnielli. Mas nasci sócia do Guarani, cresci frequentando a piscina “G”, descendo os toboáguas verde e branco, frequentando as matinês daquele Carnaval que nunca mais foi o mesmo e acompanhando a minha mãe nos jogos do Bugre. Não fui eu que escolhi o Guarani, foi o Guarani que me escolheu.

Estudei e segui a carreira que sempre sonhei. E olha só: como jornalista a primeira porta que se abriu para mim foi justamente aquela de onde eu já considerava a minha segunda casa.

O ano era 2006 e entrei para ajudar na divulgação das ações do clube. O tempo foi passando e caí de paraquedas na assessoria de imprensa do futebol profissional também. Foram 5 anos nessa função. Vi e vivi tanta coisa que seria preciso um livro para contar tantas histórias. Série C, Série B e Série A do Campeonato Brasileiro. Primeira e segunda divisão paulista. Copa do Brasil. Cobri mais de 250 jogos do Bugre pelo Brasil inteiro e fiz muitos amigos que fazem parte da minha vida até hoje. Mais do que a minha segunda casa, o Guarani foi uma escola. Sou muito grata por tudo o que aprendi ali, na marra e na prática.

Trabalhei com Michael Robin, Carbone, Jair Picerni, Waguinho Dias, Roberval Davino, Guilherme Macuglia, Argel Fucks e Giba, além de Luciano Dias, Vadão (Gersinho) e Vagner Mancini, esses últimos meus amigos pessoais que me ensinaram muito não só sobre futebol, mas sobre caráter, respeito e empatia.

Foi ali também que aprendi a separar a razão do coração. Quando você vive nesse meio, você faz parte de um todo e também vira alvo quando as coisas não saem conforme o planejado. O maior desafio era separar a Michelle, torcedora, da Masotti, assessora de imprensa. Tive que aprender a sofrer após as derrotas e rebaixamentos, engolir o choro e me recompor em questão de minutos porque a imprensa estava ali, aguardando a entrevista coletiva.

Durante esses anos eu aprendi também que o futebol é bem mais complexo do que parece e vai muito além das quatro linhas. O que acontece nos bastidores influencia diretamente nos resultados. Quando você trabalha em um lugar por tanto tempo, as pessoas depositam muita confiança em você e você passa a presenciar de tudo, inclusive o que não gostaria. É assustador quando você percebe que vai muito além do que a imprensa mostra. Esse foi o meu maior desafio como jornalista e bugrina.

Como tive a oportunidade de viver os bastidores, aprendi a deixar um pouco de lado a passionalidade, mas isso não se aplica ao Derby. Amanhã é tudo ou nada, vale mais que final de campeonato. É dia de acordar com dor de estômago, frio na barriga e coração acelerado. Quem ama o Guarani sabe do que eu estou falando. O Derby é um mundo à parte e só peço para que aqueles que estiverem em campo nos representando, tenham o mínimo de consciência sobre a importância desse jogo.

O Guarani faz parte da minha vida, da minha história, da minha família. O legado deixado pelo meu avô, passado a mim através da minha mãe, já está com a minha filha também. Aconteça o que acontecer, ontem, hoje e sempre Guarani!

(artigo escrito por Michelle Masotti-Especial para o Só Dérbi)