O futebol tem caprichos e armadilhas. Uma furada pode se transformar em benção e aquilo que na aparência parece ser um negócio da ocasião pode virar um tormento. Impossível deixar de fazer tal reflexão e esquecer do volante Fernando Bob e seu calvário profissional no Internacional (RS). Surgiu no Fluminense, cansou de exercer o papel de coadjuvante e após vestir a camisa do Vitória desembarcou em Campinas em 2013 a pedido do técnico Paulo César Carpegiani.
Teve um início irregular, chegou a ser vaiado pela torcida da Ponte Preta e depois foi agraciado com o gol anotado nas quartas de final da Copa Sul-Americana contra o Veléz Sarfielde. Sua vida mudou.
De repente, torcedores e imprensa passaram a reparar no jogador técnico, habilidoso, de boa colocação e com poder de marcação. No ano seguinte, seu futebol tinha rendimento tão assombroso na Série B do Campeonato Brasileiro que chegou a ser chamado de Fernando “Redondo” Bob, em alusão ao volante argentino do Real Madrid da década de 1990. Bob era elogiado, cultuado pela torcida da Macaca e correspondia com dedicação, entrega e futebol de alta qualidade.
Era inevitável buscar um salto na carreira. Teve seis propostas oficiais na mão para decidir e optou pelo Internacional. No começo do ano, a escolha parecia ter sido adequada com a conquista do Campeonato Gaúcho e o bom início de Brasileirão. Era titular. Tinha respeito da torcida colorada, mas não tinha a idolatria que recebia em Campinas.
Pois hoje o mesmo Fernando Bob, na gestão de Celso Roth está no banco de reservas e vê o seu time na trilha do rebaixamento enquanto que o antigo clube, apesar do Paulistão deficitário, emplacou uma boa campanha. E o jogador está incomodado com a situação. Uma prova ocorreu no dia 24 de julho, quando o então camisa 5 do Internacional foi expulso no jogo contra a Ponte Preta após entrada no volante Wendel. Não era o Fernando Bob que conhecíamos.
Nesta vida louca de jogador profissional construir um patrimônio duradouro é prioridade. Só que também é preciso viabilizar conquistas, projetar o nome na história. Na questão financeira, é lógico que Fernando Bob tomou a medida correta ao buscar um novo horizonte. Cada um sabe onde aperta o calo.
Mas será que adiar o desembarque do Majestoso não traria algum benefício? Será que não existiria chance de ser protagonista nesta atual edição do Campeonato Brasileiro? Não poderia receber perto daquilo que desejava?Não poderia resolver diversos dilemas do atual técnico pontepretano Eduardo Baptista?
Falo de Fernando Bob e poderia citar outros acometidos de um costume no futebol brasileiro: a incapacidade de vislumbrar a possibilidade de fazer carreira, ganhar reconhecimento e boa situação financeira em clubes de médio porte. Não se engane: a atitude do atacante Walter, de sair do Atlético Paranaense e embarcar de volta ao Goias, na Série B, não é regra, é exceção.
Impressa e torcedores cobram com certa razão a falta de iniciativa da Ponte Preta de trazer jogadores de vulto. O exemplo de Fernando Bob demonstra que não é apenas a questão financeira o fator preponderante. É preciso antes de tudo combater a cultura do próprio jogador brasileiro, que por vezes prefere encontrar-se desaparecido em um time grande do que ser protagonista em outra agremiação. Um dia muda.
(análise feita por Elias Aredes Junior)