Proibição de treino aberto antes do dérbi e a constatação: os integrantes do MP não viveram a infância na plenitude

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Tomo conhecimento de que por ordem da Polícia Militar, do Baep e do Ministério Público, as diretorias de Ponte Preta e Guarani não terão a permissão de realizar treinos abertos. No máximo, despedida de delegação. E olhe lá. Junte essa medida com a instituição da torcida única, proibição de bandeiras, instrumentos musicais e todo e qualquer material que possa ser utilizado como “arma”.

Não vou discutir segurança. Eles são pagos para proteger cidadãos. Apesar da constatação inequívoca em Porto Alegre, em que os Grenais contam com torcida mista e espaço para visitante. Meu foco é outro. Aliás, é um lamento. Chego a conclusão, e digo sem qualquer viés de ironia, que os integrantes do Ministério Público e das forças de segurança tiveram uma infância e adolescência muito triste. Sem brilho. Sem ligação afetiva com o futebol.

Quem frequenta um estádio desde a infância, mesmo com todos os lances de corrupção e desmandos nos bastidores, nunca, jamais apaga da memória os domingos em que os gramados eram invadidos pela festa intensa do papel picado, do batuque das torcidas organizadas, das bandeiras desfraldadas na comemoração dos gols ou das caravanas para apoiar a equipe de plantão.

Quem é pontepretana tem vários gols para relembrar celebrados colados no alambrado. O bugrino tem uma relação sentimental com o tobogã, com o bandeirão subindo em todos os espaços.

Craques, vitórias inesquecíveis e lances de beleza plástica inestimável fazem parte do pacote de qualquer fã de futebol. O afeto, no entanto, é gerado pela experiência da arquibancada, do abraço involuntário na hora do gol, na imaginação para incentivar a equipe no confronto titânico e épico. Impossível tal memória afetiva apagar-se na vida adulta.

E quem tem tal amor dentro de si luta com todas as forças para eliminar os 6% de baderneiros que estragam a festa do futebol. Em tempo algum pensa em deixar o futebol um jogo amorfo, sem vida e dotado de uma alegria contida e sem sentido. Não aceita cumprir o papel do tio rabugento solteirão ou da tia chata incapaz de vislumbrar beleza na vida. Deve ser duro exercer o papel de estraga prazer.

Repito: no fundo, tenho pena e sou solidário a essas autoridades que só sabem tirar a vida e o sentido do futebol. A lei existe e deve ser cumprida. Só que deve ser muito triste carregar uma alma opaca e cuja função é apenas ver a infelicidade alheia.

(Elias Aredes Junior)