Nestes tempos em que discutimos Pandemia, coronavirus e como o futebol retornará a partir da sua autorização, um assunto fico meio fora de moda, que é a instituição do torcedor símbolo. Ou seja, a figura, folclórica ou não, que representa o sentimento da agremiação, seja na arquibancada.
Interessante observar que o Guarani tem dois representantes, um no passado e outro no presente.
No passado, é inevitável lembrar de Bozó. Residente por vários anos na Vila Padre Manoel da Nóbrega, era uma figurinha carimbada no Largo do Rosário e no Brinco de Ouro. Seu jeito despachado e descontraído cativava até os rivais. Faleceu aos 58 anos no dia 25 de setembro de 2017. Um mito reforçado pelos resultados dentro do gramado. Bozó foi o simbolo de um Guarani que era feliz e sabia.
Deixou uma sucessora. Tânia Santana, a Tia Tânia. Qual torcedor que nunca teve desejo de participar de uma das caravanas dela e que cortavam o Brasil de norte a sul durante os anos que o Alviverde passou por um calvário na Série C do Campeonato Brasileiro.
Destemida, trabalhadora e desprovida de ambição, tia Tânia atuou por vários anos no memorial do Guarani. Voluntariamente. Se você visita o local e fica satisfeito com as instalações, a comerciante aposentada tem boa parte de contribuiçao.
Neste contexto, a elitização do futebol poderá constituir-se em uma tragédia para aqueles
que nutrem simpatia pela instituição do torcedor símbolo. Tal personagem só surgiu em uma época de um futebol calcado nas classes populares e em que a integração com o clube era normal. A relação era de pertencimento.
Caso a elitização vire realidade, o que vai prevalecer é a relação consumidor e prestador de serviço.
Ou seja, o torcedor não vai considerar aquela camisa como parte integrante da sua vida ou como alguém no qual você deva participar ou defender. Você vai querer vencer. Ponto.
Concordo que o lado positivo que as derrotas devem gerar uma repercussão menor. No entanto, será inevitável o distanciamento. E isso poderá matar de vez um dos grandes baratos do futebol. E que foi fundamental por muito tempo para traduzir o que era o Guarani e o sentimento do seu torcedor. Cabem aos dirigentes preservarem este patrimônio.
(Elias Aredes Junior)