Uma reflexão sobre Thiago Carpini, Guarani, Ponte Preta ou quando a sede de vingança fere involuntariamente instituições centenárias

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O técnico Thiago Carpini está consagrado. Ganhou os dois jogos que disputou contra Ponte Preta e Guarani no Paulistão. Após sair do Guarani de modo turbulento, nada melhor do que deixar o fel da vingança escorrer pela boca. Foi o que fez na entrevista coletiva após a vitória sobre o Guarani por 1 a 0. “Contratamos jogadores que não serviam para as duas equipes (Ponte Preta e Guarani). Juntamos os cacos, depositamos confiança e esperança. Demos conceito, conteúdo e organização. Vencemos os dois com tudo que não servia para eles”, disse o treinador.

Vamos combinar: os dirigentes do futebol campineiro são um desastre. Um monumento à incompetência. Erram nas contratações, são equivocados na tomada de decisões e são assessorados por pessoas muito mais contaminadas por uma vaidade tóxica e sem sentido do que por conhecimento. Não duvido de que alguns dos atletas que estão na Internacional de Limeira tenham recebido um treinamento que deixou muito a desejar em Campinas.

O discurso de Thiago Carpini, uma mistura de Renato Portaluppi com Tite e com pitadas de José Mourinho, não pode ignorar o essencial: não há mocinho nesta história.

Uma pergunta deve ser feita: os atletas com passagens por Ponte Preta e Guarani nunca erraram?

Nunca se equivocaram?

Tiveram uma produtividade de alto nível no gramado em todos os jogos?

Nunca mereceram críticas ou cobranças? Ou também colaboraram para a formação da imagem negativa com rendimentos decepcionantes, gols perdidos, tentos sofridos e uma postura no gramado que seria perfeitamente evitável? Deveríamos dar nota 10 para eles todos os jogos? É isso?

O discurso de Thiago Carpini, embora com embasamento justificável cai no erro que atrasa o  futebol brasileiro: o reforço de um paternalismo, uma proteção e blindagem sem sentido. Ninguém é perfeito. Temos dias bons e ruins. Nossa missão é encarar essas fases como uma oportunidade de amadurecimento e crescimento.

Já estive em lugares em que fui aceito e rejeitado. Amado e odiado. Desprezado e ignorado. Todos vivemos isso. Em algumas oportunidades perdi a chance de melhorar. Em outras aproveitei. É a vida. Uma senhora misteriosa e capaz de lançar mistérios que vivem na linha tênue da tragédia e do júbilo.

Reflito: por que o jogador de futebol recusa-se a viver algo inerente a qualquer ser humano? O que leva treinadores  a reforçarem essa linha que mais parece um tratamento escolar primário?

Internamente, é lógico, os jogadores vibram com a declaração de Carpini. Até sonham que isso pode ser de combustível para uma classificação contra o Corinthians.

Não duvido. No Brasil em que slogans tem mais valor do que conceitos e aprendizado, tudo é possível.

Meu foco é outro. Não abordo somente futebol. Falo de conceitos além da vida futebolistica: responsabilidade, empatia, respeito, humildade, sabedoria, hora certa para saber dizer e se calar. Aliás, o livro de Eclesiastes na Bíblia Sagrada é um belo manual de comportamento e direcionamento.

O futebol é o viveiro das ilusões. Hoje, Carpini e outros treinadores são ovacionados dentro do vestiário por aplicarem o código de ética da boleiragem. Tripudiar para degustar o sabor do veneno da vingança. Atingir dirigentes incompetentes. Que são transitórios.

Vale tudo para adotar atitudes intempestivas. Mesmo que isso custe machucar e dilacerar as instituições centenárias, que não tem nenhuma relação com os desvario dos homens.

O futebol está dentro do mundo e não o contrário. Um dia aprendemos.

(Elias Aredes Junior-foto divulgação-Internacional de Limeira)