Uma reflexão sobre os Jogos Olímpicos e o futuro do esporte no Brasil

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Estamos na reta final dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Madrugadas que forjaram milhares de brasileiros insones. Medalhas produziram instantes de felicidade e jubilo em um país destroçado pela pandemia e por tempos obscuros, produtor de um autoritarismo sedento em retornar. Neste cenário há espaço para histórias comoventes. Como a de Darlan Romani, quarto lugar no arremesso de peso.

Uma classificação que, ao invés de decepção gerou comoção nacional. Um vídeo mostrou suas condições de treinamento: um terreno baldio, ao lado de sua residência, cheio de entulho e sujeiras que em nada se assemelham a um lugar ideal para forjar campeões.

Ficamos comovidos, como nas vitórias de Rebeca Andrade, no Skate, Surf e também decepcionados com a performance do vôlei de praia, surpresos com a medalha de bronze de Alison Santos. Não duvide: ao final do evento, o Comitê Olimpico Brasileiro fará uma entrevista coletiva para enaltecer a quantidade de medalhas e de certa forma vender a imagem de que todas as condições de trabalho foram dadas.

Eu pergunto: e o dia seguinte? Veja: o Brasil sediou uma olímpiada e nada mudou, apesar do Comitê Olimpico Brasileiro deter um orçamento de R$ 388 milhões neste ano olímpico. Orçamento, aliás, que demonstra uma distorção de prioridades no Brasil. Basta dizer que a CBF, que cuida de uma única modalidade, teve no ano uma receita líquida de R$ 630 milhões.

Pior: é impossível ignorar que os equipamentos levantados no Rio de Janeiro não receberam uma destinação correta. Não dá para esquecer que atletas vivem com salários modestos, condições de treinamento inadequadas possíveis e distantes de patrocínios robustos. Se os recursos tivessem destino adequado, quais seriam as condições de treinamento de Darlan? Qual .

A imprensa especializada retornará a velha rotina do futebol enquanto que o esporte brasileiro, em suas diversas modalidades, sobrevive de heróis, rompantes e improvisos temperados com talento.

Quando você a classificação geral e vê que um país com 210 milhões de habitantes, sem discussão madura sobre política esportiva, que não dá boas condições de treinamento e de subsistência para boa parte dos atletas e vê que já está com 16 medalhas no total só podemos classificar esse desempenho em uma prateleira, a do milagre. E o fruto direto da incompetência de dirigentes e políticos, incapazes de transformar um pais com múltiplos talentos em uma potência olímpica.

(Elias Aredes-Foto Comitê Olimpíco Brasileiro)