Aprecio relações em que a fidelidade é indissoluvel. Pode acontecer qualquer evento. Vilões podem aparecer de todos os lados. A união é forte, compacta, sem chance de rompimento. O futebol já me deu a oportunidade de presenciar o comportamento de torcedores de diversos tipos. Raiva, revolta, rebeldia ou simples indiferença. A bola na rede ou o troféu levantado é algo que traz consigo o símbolo do êxito, da perfeição.
Algumas conexões são mais complexas. E emocionantes. O fotógrafo, jornalista e amigo Fábio Soares, autor do belissimo projeto Futebol de Campo me envia fotos do jogo da Ponte Preta contra o Vila Nova. Evidente a facilidade de retratar a felicidade. Só que um registro me paralisou. Provocou reflexão.
A cena é singela.
Uma mulher e duas crianças.
Deve ser uma mãe e filhos. Ou tia e sobrinhos. Interessa a cena, o instante. Fico imaginando a luta, a batalha dessa mulher para prevalecer sua paixão e amor pela Ponte Preta e o futebol.
As vezes em que foi xingada, humilhada. Ou vitima de chacota porque ousa amar um clube e uma modalidade que dá ás costas as mulheres.
Um amor tão incondicional que não é destruído pelas feridas do machismo e da misoginia. Algo tão forte, belo, diferente e cativante que reúne forças para transmitir esse sentimento para uma próxima geração. Pontepretanos. Crianças. Que só tem uma missão: amar a camisa em branco e preto.
Essa, essa mulher, que não sabemos o seu nome ou origem, explodiu em felicidade após o gol de Pablo Dyego.
Ela voltará quando puder. Com as crianças. Porque amar a Ponte Preta não é um peso. Nem sacrificio. É uma declaração diária de amor a vida e ao futebol. Que continue assim.
(Elias Aredes Junior com foto de Fábio Soares/@fcmpo)