Ponte Preta, uma força que mobiliza almas e corações. Contra tudo e todos!

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Quantas surpresas esconde o futebol. Infinitos mistérios. Lendas que viram realidades. Fatos reais que são ignorados. A fantasia que faz o adulto respirar. Um modo da vida cercada de emoção. É, eu sei o que se vê nos campos neste ano de 2023 não provoca suspiros.

Não produz sorrisos.

Faz com que tenhamos alivio. Apenas.

No fim, o que vale é o afastamento de uma decepção profunda. Traduzindo: a luta contra o rebaixamento. A Ponte Preta vence a Chapecoense por 1 a 0, somou três pontos e terminou o domingo com a sensação de alivio. A palavra define tudo. Não existe felicidade, êxtase, delirio. É alivio. Alma leve. Mesmo que o susto não tenha passado. Ainda.

Qualquer pessoa fria, racional, que não tenha envolvimento emotivo pergunta : o que faz as pessoas trocarem a tranquilidade de um domingo à tarde para assistir a uma partida com duas equipes limitadas, que não vão brigar pelo acesso e sem perspectiva de melhoria? É um mistério.

Mistério que ganha contornos mais fortes quando você assiste ao jogo pela televisão e vislumbra o pai com seus filhos no camarote em delírio pelo gol de Lucas Nathan. O que provoca tudo isso?

Você pode apontar o amor pelo clube ou a paixão como explicações convincentes. Só isso? Por que quando amamos algo ou  uma pessoa não quer dizer que aprovamos incondicionalmente todos os seus gestos. Não quer dizer que iremos sorrir todo dias ao acordar ou ao final de um dia de trabalho. Magoas, decepções, contratempos…Tudo isso molda a nossa relação com amigos, namorados, pais, filhos. É a vida.

No futebol,  existe um imã, uma força mágica e motriz que age como uma lousa em nossa memória. Tudo é apagado em questão de dias. Esperança  renovada. Tudo é feito como novo. Comemoramos um gol como se fosse a primeira vez.

Por que? Com que intenção?

Como justificar a paixão por um clube em constantes dificuldades financeiras e em uma guerra política que fez mais feridos do que vivos? A resposta é apurada e buscada em cada canto da alma e do coração.

Não sou psicólogo. Nem tem dom de premonição ou capacidade de entender o que se passa nas mentes de quem senta nas arquibancadas de concreto do Majestoso. Posso dar palpites. 

O que você faz eu, você ou qualquer encontrar-se inebriado a cada segunda feira precedida por uma vitória em um campeonato de Série B é que o futebol, com seus defeitos e imperfeições, é capaz de nos proporcionar sensações únicas.

Por duas horas, somos crianças. Puros . Entendemos que não existe nada mais importante do que a bola balançar as redes. Não há nada mais precioso do que abraçar quem está do seu lado, de sair com o seu filho no ombro e caminhar pelas ruas que desembocam na entrada principal do Majestoso. Ali, não há súditos. Todos são Reis. Todas são Rainhas.

Em um mundo cada vez mais violento, dividido, sem amor e com inexistência de horizonte de dias melhores, a possibilidade de voltar a infância é a renovação em estado puro. Ah, Ponte Preta como você arrebenta com o coração do seu povo!!

Mas a cada vitória como você é capaz de fazer alguém feliz e com autoestima!

Nem que o sentimento só dure até a próxima rodada. Já valeu a pena.

(Elias Aredes Junior-com foto de Diogo Reis-Especial para Pontepress)