A utilidade de um clássico da dimensão de Ponte Preta e Guarani é que sentimentos ficam claros. O espirito do tempo fica perceptível. Após a derrota no último sábado, incrivelmente poucos culparam o técnico Pintado pelo trabalho realizado no gramado. Aqueles que utilizam as redes sociais como sua principal tribuna direcionaram suas ressalvas ao presidente Marco Antonio Eberlin e ao grupo político MRP, que lhe dá sustentação política dentro do Conselho Deliberativo e na administração.
Só que existia algo diferente. Era uma mistura de desolação com falta de perspectiva. Quando falamos de administração de clube falamos de política e especificamente de alternativas de poder. Para não ir muito longe basta recordar qual referência que torcida utilizava nas redes sociais nos fracassos de Gustavo Bueno, Tiãozinho e de outros dirigentes. Sim, a referência era o próprio Eberlin. Muitos diziam que eram felizes em sua época. Que a Macaca jogava a Série A do Brasileiro com frequência regular e que revelava jogadores.
A realidade bateu a porta. Os resultados foram decepcionantes. Rebaixamento e rendimento decepcionante. A bola não entra. O futebol é limitado. O rebaixamento é um resultado inaceitável para as tradições históricas da Ponte Preta. Recursos bloqueados, penhora de estádio e dentro do campo e a Macaca não teve presença entre os 10 primeiros colocados em nenhuma rodada. Uma lástima. Decepcionante. O título na Série A-2 não apaga o rendimento ruim e o ano de 2023 sem vencer o principal rival.
FALTA DE ALTERNATIVAS
Veja, eu desfilei uma série de problemas, resultados ruins. Com esse clima pavoroso não surgiu uma só personalidade para canalizar essa justa insatisfação das arquibancadas.. Independente das condições financeiras caóticas, era possível fazer mais e melhor. Repito a pergunta: então porque não surge uma alternativa de poder? Porque nem as redes sociais não citam um nome sequer que represente renovação, criatividade, novos parâmetros administrativos e um planejamento de médio e de longo que leve a Ponte Preta para um novo patamar?
Por que? Simples: porque a talvez a Ponte Preta seja o único clube do país em que não existe na política interna alguém que seja pedra e a outra vidraça. Ambos são vidraças. Pode ser que uma seja um material diferente do outro. Mas que são vidraças são.
Da atual administração, em se falando se futebol, nem precisamos reprisar os equivocos. Os resultados mostram. Repito: com um quadro tão ruim porque não aparece uma alternativa, alguém que galvanize corações e mentes para começar uma mobilização política que termine em alternativa? Vamos tocar em uma ferida. Falaremos de luta de classes.
RESULTADOS IMPORTAM. ATITUDES E SIMBOLOS TAMBÉM
Veja: a atual oposição teria melhores resultados para exibir. Finais de Sul-Americana e Paulista, convocação de Ivan Quaresma para a Seleção Brasileira, viabilização da Seleção Portuguesa no CT do Jardim Eulina na Copa do Mundo. Nem assim, o desgaste foi evitado. Não, não foi apenas a ojeriza a personalidade A, B ou C que provocou essa erosão. É algo que transcende o futebol. Se vocês não tem memória, este colunista tem.
Lembram das vezes que as redes sociais pegavam fogo porque os ingressos avulsos eram caros? E o que de eventos voltados apenas para uma classe média mais abastada e que deixava o povão do lado de fora (O Festival de Food Truck é um simbolo) ? Detalhe: não estou falando de Torcida Organizada. Falo do torcedor comum, daquele que sofre e ganha salário minimo. Este estava fora do lugar em dado momento da história da Ponte Preta.
A camisa surrada, o chinelo modesto, pronto para pegar o ônibus no ponto. Estes personagens foram banidos do clube. Era uma gente que não era bem vinda. Duvida? Reveja as postagens no Facebook de 2015, 2016 e verá do que falo. Eram tempos de uma Ponte Preta “gourmet”, elitizada, cheia de frescuras e manias da alta classe. Algo que fugia totalmente daquilo que é o clube é sua origem.
EXEMPLOS E CRÉDITOS DE CONFIANÇA
Exemplo? Na época da final do Campeonato Paulista de futebol, quem hoje está na oposição cobrou valores de ingressos que iam de R$ 20, R$ 40 e R$ 80. Valor médio de R$ 37,22. Lembro perfeitamente que muitos pontepretanos chiaram pela inexistência de valores mais baratos. Convenhamos: não era caro. Mas quatro anos antes, o presidente Márcio Della Volpe tinha patrocinado ingressos a dois reais na fase preliminar da Sul-Americana e em decisões do Campeonato Brasileiro. Ué, como em uma competição sul-americana o valor era baixo e uma decisão de estadual não havia possibilidade? Não adianta conceder explicações. A pecha de um grupo político burguês pegou.
É por isso que hoje, a Ponte Preta tem muita gente insatisfeita com a atual administração, mas dá um crédito de confiança, na base do “ruim com ele, pior sem ele”. É, o argumento dos resultados (ruins) não entra na conta desses grupo de torcedores. Para eles, mais do que um clube vencer jogos, basta a agremiação ficar próxima deles. Mesmo que o presidente comande com um estilo administrativo mais centralizador. Na cabeça dessas pessoas, pelo menos a Ponte Preta tem uma cara, um jeito mais afeito as suas origens. Não se pode esquecer: a eleição do MRP só possível porque a atual gestão teve apoio de Tiãozinho, uma figura com clara origem popular.
Oposição? Conheço ali pessoas extremamente capazes. Competentes. Mas profissionalismo, planejamento, adoção de métodos de gestão não vale nada sem empatia e sem uma luta diária para apagar essa pecha burguesa. No fundo, é o maior trunfo para a atual administração sustentar entre si o grupo que lhe sustentar.
“Ah, mas isso não tem nada a ver com futebol”. Respondo e termino com uma frase: a pessoa que só quer entender de futebol, nem de futebol entende.
(Elias Aredes Junior-Foto de Diogo Reis-Especial para a Pontepress)