O Guarani é campeão brasileiro de 1978. Vencedor da Taça de Prata de 1981. Segundo lugar no Brasileirão de 1986 em uma decisão emocionante protagonizada por Evair com a camisa alviverde e Careca pelo tricolor paulista. Foi terceiro lugar no Brasileiro de 1982 e só não chegou a decisão porque tinha no outro lado o quase invencível Flamengo de Zico.
A Portuguesa protagonizou uma final emocionante do Campeonato Brasileiro de 1996, montou times valentes, técnicos e talentosos nas décadas de 1970 e 1980 e sempre gozou da simpatia de todas torcidas do estado de São Paulo. No passado, não seria anormal estas duas equipes protagonizarem uma partida de quartas de final ou até de semifinal de Campeonato Paulista. Ou serem integrantes das divisões de elite do futebol nacional. Duas equipes com camisa, história, tradição e com torcedores abnegados e apaixonados.
No domingo, enquanto Corinthians e Palmeiras faziam um jogo eletrizante na Arena Barueri, Portuguesa e Guarani decidiam quem continuaria com chances de permanência ou quem arrumaria as malas rumo a Série A-2 do Campeonato Paulista. Infelizmente o jogo foi tudo aquilo que esperávamos: lotado de falhas, erros e lances bisonhos e pitorescos. A Lusa ganhou. Placar de 1 a 0. Gol de Giovanni Augusto. Podia acabar o jogo ali assistido por 2280 torcedores.
Na etapa final, a Portuguesa teve criatividade escassa para ampliar o marcador e o Guarani demonstrou uma fragilidade que o torcedor bugrino que compareceu ao estádio do Canindé não teve outra saída senão a de abraçar a desesperança.
Dirigir críticas ferozes aos jogadores é uma avaliação incorreta. Ninguém obrigou que aqueles atletas estivessem ali. Eles foram contratados. Avalizados pelos dirigentes estatutários que, além dos treinadores, arranjaram um novo bode expiatório: os executivos de futebol.
No dia anterior, a Portuguesa mandou embora Edgard Montemor. Após a derrota em São Paulo, foi a vez do Guarani demitir Juliano Camargo, que montou o time ao lado do presidente André Marconatto (que foi eleito e portanto não pode ser demitido) e pelo CEO do clube, Ricardo Moisés, que deixou de cuidar do futebol e agora ficou apenas com a parte administrativa. O Conselho Deliberativo, designado para fiscalizar a gestão bugrina, assiste tudo de modo passivo, sem publicizar aos torcedores as medidas ou as conversas feitas com os dirigentes que deixaram o clube na zona do rebaixamento. Seria, antes de tudo, dar uma satisfação ao torcedor bugrino.
Para quem acalentou o amor pelo futebol por intermédio destas duas camisas com atuações de Enéas, Toninho, Denner, Careca, Djalminha, Amoroso , Luizão ou assistiu a trabalhos memoráveis do banco de reservas de profissionais como Candinho ou Carlos Alberto Silva é desolador assistir a duas marcas gigantescas e tradicionais do futebol brasileiro terem que se contentar em serem figurantes de uma modalidade cada vez rica, estrelar e desigual.
A Portuguesa não pode ficar restrita ao Campeonato Paulista. Precisa e deve retornar ao seu lugar de direito, que é a Série A do Campeonato Brasileiro. O Guarani não pode considerar que o quadro atual é suficiente para apagar os anos e anos nas Séries C do Brasileiro e Série A-2 do Paulista. Uma equipe sediada em uma cidade com 1,2 milhão de habitantes, mesmo com seus problemas com dívidas e obrigações, não pode considerar normal ser um participante sem esperança de dias melhores.
O torcedor tem fé. Sempre vai acreditar. Só que infelizmente os dirigentes impedem a realização dos milagres. Não há crença que dê jeito em tanto desacerto.
(Texto de autoria de Elias Aredes Junior-Foto de Raphael Silvestre-Guarani F.C)