Não quero utilizar estar próximas linhas para falar de tática. Ou da qualidade técnica dos jogadores. Nem abordar falhas ou equívocos de escalação. Quero fazer uma única pergunta. Só tirar uma dúvida. Curto e grosso: os jogadores sabem o que significa a Ponte Preta?
Não são palavras jogadas ao vento. Ou sem sentido. Quando peço tal esclarecimento seria no sentido mais profundo. De entender, compreender e assimilar a dimensão de defender a agremiação.
Se soubessem o que é a Ponte Preta decorariam a história de Miguel do Carmo, o primeiro negro a defender um clube de futebol no Brasil. Saberiam da história de craques do passado e da luta para chegar a primeira divisão; da luta titânica travada na década de 1960 para sair da segunda divisão estadual. Conheceria o sofrimento de quem esteve no Majestoso no dia 07 de março de 1965 e presenciou a derrota para a Portuguesa Santista por 1 a 0 e o fim do sonho do acesso. Os jogadores com entendimento pleno da Ponte Preta teriam nas suas retinas a formatação das cenas comoventes das caravanas realizadas pelo interior paulista e cujo desfecho ocorreu em 1969 com a conquista do título da segunda divisão.
Um atleta impregnado pelo espirito pontepretano saberia a dor, a ferida contida nos torcedores pelas perdas dos títulos estaduais em 1970, 1977, 1979 e 1981. Das sacanagens impostas na década de 1980 e quase responsáveis pelo fechamento do clube.
Ponte Preta que agonizou, sofreu mas nunca morreu. A torcida é o seu DNA, a própria razão de viver. Ajudou na reconstrução iniciada em 1997 e cuja força gerou a participação nas finais de paulistão de 2008 e 2017, os acessos de 2011 e 2014 e o vice-campeonato da Sul-Americana. Não é história da carochinha. Nem conversa para boi dormir. É saga, caminho, trilha de um povo sofrido e detentor de esperança infinita.
Se os jogadores entendessem o que é a Ponte Preta a derrota poderia até acontecer, porque é do jogo. O futebol é assim. Mas o revés seria revestido de sangue, sacríficio, doação, entrega. Sim, o jogador de futebol é dedicado. Ninguém deixa de correr e lutar. Na Ponte Preta é assim. Todos dão 100%.
Só que 100% na Macaca é pouco. Quase nada. Atletas não compreendem é que existe a necessidade de correr uma maratona com a velocidade e a tenacidade de quem disputa uma competição de 100 metros rasos.
Se todos estivessem conscientes da trajetória histórica da Ponte Preta eu aposto: os 3 a 0 contra o Corinthians dificilmente aconteceriam, apesar do bom trabalho de Fábio Carille e a derrota sofrida diante do Atlético-GO seria um pesadelo sem chance de virar realidade.
A Ponte Preta não precisa somente de jogador de qualidade. Sua urgência é, antes de tudo, contar com profissionais que entendam a alma e o sofrimento do seu povo. É requisito para quem deseja fazer história.
(análise feita por Elias Aredes Junior)