A demissão de Ana Moser e o desperdício da uma correta política esportiva para o Brasil

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Quem ganhou três eleições presidenciais já está na história do Brasil. Fato. Tem uma folha de serviços prestados e uma série de obras para exibir. Luiz Inácio Lula da Silva é protagonista da política nacional há pelo menos 45 anos. Personagem histórico. Mas não é Deus. Não é infalível. Ele erra. Como todos nós. Com uma diferença: é o mais alto funcionário público do Brasil. Deve explicações e justificativas. De preferência, em entrevistas coletivas ou exclusivas para veículos de comunicação. Não, o Café com o Presidente não vale. Por mais competente e eficiente que seja Marcos Uchôa, ali é um espaço institucional. Não há conflito, o contraditório.

Lula precisa explicar sobre a mudança no Ministério do Esportes. Tirou Ana Moser para abrir espaço ao Centrão. O ponto central não é este. A questão é de que este era um constrangimento que poderia ser evitado.

Durante o processo eleitoral do ano passado, o então candidato Lula prometeu a um grupo de esportistas e formadores de opinião do setor que o Ministério do Esporte não seria utilizado como moeda de troca.

Quando ele fez esse compromisso, o Centrão já existia, Artur Lira era o manda chuva do Congresso, a extrema direita já ditava as regras e o Congresso era tão conservador quanto hoje. Qualquer pessoa com senso crítico sabia que, se Lula fosse eleito, existiria a necessidade de negociar apoio junto a um congresso conservador e hostil ao Partido dos Trabalhadores. Um cenário que não proporciona garantia de nada.

Mais: que o Centrão é como o bonequinho do antigo jogo de videogame Pacman: quanto mais come, mais a fome fica insaciável.

Pergunta: se toda essa conjuntura existia e estava exposta, porque Lula cometeu o erro crasso de estabelecer esse compromisso público e com conhecimento suficiente para saber a dificuldade de cumpri-lo? Pior: por que convidar Ana Moser para nove meses depois fazê-la passar por esse constrangimento?

Lula foi presidente por oito anos. Passou por problemas políticos terríveis. Promoveu várias reformas ministeriais e já mandou embora amigos em nome da bendita (ou maldita) governabilidade.

Por que fez esta promessa se o seu próprio histórico lhe fornecia experiência suficiente para saber o que iria acontecer? Repito: o que justifica a promessa e essa atitude injustificável com Ana Moser?

No próximo ano, milhares de candidatos a vereadores e a prefeito pelo Partido dos Trabalhadores vão pedir votos em mais de 5568 votos. O questionamento é válido e legítimo: quando essas pessoas irem às ruas para pedir votos e dizer que o Esporte será prioridade no mandato delas, o eleitor deve acreditar? O eleitor deve apostar que política esportiva será utilizada como uma forma de inclusão e de instrumento de saúde pública? Ou deve achar o tema supérfluo e sem importância diante da postura do Presidente da República? É uma dúvida legítima.

Que existe um problema de governabilidade para conseguir os 308 votos para aprovar projetos, não há dúvida. Sacrifícios devem ser feitos. O que não dá para aceitar é que o sacrifício envolve destruir um trabalho correto e deixar desconfortável uma atleta olímpica, com títulos e com uma postura de cidadania e de retidão que seria valorizado em qualquer país do mundo. Aqui, ela é vítima de um sistema político injusto.

Durante a Campanha eleitoral de 2022, Lula prometeu que voltaria para fazer mais e melhor em comparação aos seus dois mandatos anteriores. De 2003 a 2010, Lula teve como ministro dos Esportes , os políticos Agnelo Queiroz e Orlando Silva. Ana Moser no Ministério do Esporte era a garantia de que realmente Lula faria mais e melhor em relação à política esportiva. Agora, certamente será mais do mesmo. Isso se não for pior. Lula marcou um gol contra e bizarro. Triste demais.

(Artigo escrito por Julio Dutra- Júlio Dutra – MDS)