O debate é necessário. Sempre. Troca de ideias é fundamental para o crescimento de todos. No entanto, as vezes a verdade precisa ser dita. Dura, forte, mas não pode ser ignorada.
A torcida da Ponte Preta, em sua parte relevante, é crítica, consciente, cobra e não aceita mediocridade. Este é o motivo que o técnico Gilson Kleina está com seu trabalho contestado. Que a diretoria executiva não consegue melhorar a interlocução com a arquibancadas.
Só que não quero falar desta turma que representa, no mínimo, 70% dos torcedores. Quero falar do restante. Que gosta e quer ser manipulado e enganado. Que muitas vezes é usado como massa de manobra para esconder algo que mais tarde pode gerar dissabores.
Muitos defendem hoje que o problema é só a limitação da equipe. Que Gilson Kleina não tem culpa nenhuma. Zero. Que o empate em Recife foi um ótimo resultado. Essa segunda indagação deixaremos para outro artigo. Quanto ao primeiro, peço uma reflexão sobre o trabalho da comissão técnica. Vou repetir: trabalho, trampo, filosofia e modelo de jogo.
Em todos os jogos deste Campeonato Brasileiro, quantas vezes você viu a Ponte Preta executar jogadas de triangulação nas laterais?Poucas, pouquíssimas vezes.
Quando checamos os volantes em disparate a partir da zona intermediária, com força e velocidade para levar a bola nas imediações da grande área? Pior: o que justifica a ausência de Wendel, hoje no banco de reservas e que no ano passado atuava como elemento surpresa no campo ofensivo e aparecia para complementar em chute de média e longa distância? Pense, reflita.
Mais: se a equipe é montada para jogar em contra-ataque, por que o boliviano Luis Ali não é escalado? Ele é ruim, fraco? E o volante Mendonza? Não é nem um tiquinho melhor que Naldo e Jadson? A falta de respostas para algo tão óbvio é que gera revolta e ressentimento.
A pobreza é checada na jogada de bola parada. Qual jogada ensaiada de escanteio está treinada, algo existente em qualquer time limitado? Neste caso não é questão de talento e sim de treino e repetição. Mesmo que o tempo seja escasso.;
Vou além: onde está a jogada de bola parada, treinada nas imediações da grande área, utilizada no Campeonato Paulista, cuja estratégia era que a bola fosse colocada em diagonal, na direção do segundo pau para o complemento de algum zagueiro? Sumiu, desapareceu?
Danilo Barcelos era um jogador rápido e dinâmico no América Mineiro. Tinha treinado jogadas de ultrapassagens e triangulações??E agora?
Desculpem, mas essa desculpa de que o time é limitado não cola. Balela.
Em 2012, Gilson Kleina tinha em seu elenco jogadores fracos e limitados como tinha Tony, André Luiz, Gerônimo e muitos foram titulares. E sabe o que aconteceu? Kleina foi para o campo, treinou, insistiu, posicionou o time e deu padrão e qualidade. Por que essa excelência desapareceu?
Enquanto isso, mesmo equipes presentes na zona do rebaixamento, como Avaí demonstram variações, jogadas e um posicionamento mais estável do que a Ponte Preta. Incrível, esta é a verdade.
Não, não é questão de pedir a cabeça do treinador. É pedir que ele retorne ao seu padrão de trabalho que fez garantir um acesso em 2011, uma semifinal de Paulistão em 2012 e o vice-campeonato paulista de 2017.Foi este padrão que lhe garantiu a passagem ao Palmeiras em 2012. Cinco anos depois, com este mesmo padrão de trabalho, será que ele atrairia idêntica atenção? Pois é.
O elenco é fraco? Sim. Mas o trabalho poderia ser melhor. Apesar de que alguns pontos colocados apareçam aqui e ali, é inegável que não há continuidade.
Se for torcedor da Ponte Preta e não enxergar esses fatos óbvios, você comporta-se como avestruz. Ao colocar a cabeça no chão aguarda um milagre que dificilmente vai ocorrer. Infelizmente.
(análise feita por Elias Aredes Junior- foto Williams Aguiar-Sport Recife)