Nas décadas de 1980 e 1990, o Jardim Amazonas era um microcosmo de Campinas. Bairro emergente, com boa qualidade de vida, comunidade atuante, comércio com opções, alternativas em educação (lembram da Patotinha???) e garotos ávidos por futebol. Dezenas. Centenas. E o senhores aposentados prontos para debater e discutir futebol a qualquer hora e minuto. Ponte Preta, Guarani, Dicá, Jorge Mendonça…Cardápio infinito!
Quando a Ponte Preta vencia um clássico, a rua Itagiba virava território proibido aos torcedores bugrinos. E tudo por causa de um trio. Victor com a bola no pé e Benedito e Milton em cada lado da rua.
Durante a semana, batiam papo animadamente. Quando a Macaca somava dois ou três pontos, o alvo preferencial era a garotada bugrina que precisava ir a escola. A zueira fazia todo mundo suar frio. Sabia que a brincadeira, a tiração de sarro seria fatal. Os garotos bugrinos não tinham coragem em rebater. Primeiro por respeito aos cabelos brancos dos torcedores da Macaca; Depois, porque a fala mansa, os argumentos na ponta da língua desmontavam.
Para completar, Victor. Hoje deve ter 43 ou 44 anos. Pontepretano doente. Herança do pai Benedito. E com adendo: belíssimo jogador. Rápido, forte para sua idade e com faro de gol, foi uma espécie de craque da rua Itagiba. Tanto que por dois ou três anos, um vizinho à minha casa, Dirceu, desempenhou o papel de sheik catariano do Paris Saint Germain. Jogava bola no meio da garotada e a escalação seria a mais curta de qualquer transmissão esportiva: “Só eu Victor e Dalton contra a rapa”. Esse time informal, a rapa, geralmente tinha de 10 a 12 jogadores. A maioria bugrinos. Lotavam a rua. O senhor Dirceu geralmente vencia. Victor era o craque. Talvez porque o garoto queria reviver o que assistia aos domingos no Majestoso.
Pois é. Futebol puro e verdadeiro não é extensão de rede social, violência, troca de ofensas e outros requisitos nada lisonjeiros. O sentido real está nas piadas do seu Benedito, do senhor Milton ou nas traquinagens e habilidades do Vitão. Eles é que fazem o dérbi ser um jogo que ultrapassa todas as fronteiras. É, antes de tudo, uma usina de sonhos.
(artigo de Elias Aredes Junior)