Mano Brown é um dos maiores poetas vivos do Brasil. No comando dos Racionais MC, sua música fala de maneira crua e ácida sobre as agruras e problemas da periferia, do mundo carcerário e das mazelas do racismo e da desigualdade de renda. É fanático por futebol. Ama o Santos Futebol Clube. Foi para retratar esta paixão que concedeu entrevista ao jornalista Ademir Quitino, do Canal Esporte Interativo e que conhece a história do Santos como poucos.
Em dado momento, o jornalista lhe perguntou se valia a pena o alvinegro praiano mandar os seus jogos no Pacaembu e em outras cidades.
Sua explicação surpreendeu e deveria ser acompanhada por atenção pelos torcedores pontepretanos. Acompanhe a resposta (a partir do 22:00 minutos):
“(…)O Santos é o único time grande que não é de capital. Tem 500 mil habitantes. Campinas tem um milhão e pouco. Mesmo assim é difícil para o Guarani e a Ponte Preta sobreviverem. (A Ponte Preta nunca foi campeã), mesmo sendo um clube simpático, do povo, da minha mãe. Mas o poder financeiro não deixa a Ponte Preta ganhar. E o Santos ficando em Santos vai acontecer isso (…)”, disse.
O cantor tem razão. A luta da Ponte Preta no futebol é contra o sistema. O status quo estabelecido. Não é exagero ou sensacionalismo. Basta raciocinar um pouco para dar razão ao artista.
Hoje temos uma concentração de renda cada vez reinante no futebol Brasileiro. Os 12 gigantes ficam com boa parte da bolada de R$ 1 bilhão distribuídos pela televisão. Sem contar o Athletico Paranaense, que há anos reivindica ser tratado como grande.
Pense: o que interessa para os gigantões que surja uma nova força no futebol nacional? O que eles ganham com isso? Aliás, só perdem.
Falo mais da Ponte Preta porque nesta década esteve presente em cinco edições da divisão de elite do futebol nacional enquanto o Guarani esteve na última vez na década passada, em 2010.
A Macaca teve todas as chances de alterar o seu patamar, pois foi vice-campeã da Sul-Americana, vice-campeã paulista em 2017 e ficou por um triz de faturar a Série B de 2014. O Athletico-PR, além da estrutura invejável, só começou a falar mais alto após faturar a Sul-Americana e chegar a Copa Libertadores em algumas oportunidades nesta década.
Quando afirmamos que os dirigentes precisam colocar o pé no chão, estabelecer uma planificação de curto, médio e longo prazo o pedido não é a toa. Ficar em uma cidade com 1,2 milhão de habitantes, centro bancário e tecnológico privilegiado pede equipes de ponta e com capacidade de disputar títulos. Se não for na divisão de elite nacional, pelos menos os estaduais e a Copa do Brasil.
Se quiser chegar, a Ponte Preta precisa vencer os seus fantasmas internos. E depois perceber que não terá a ajuda de ninguém. É ela contra o sistema. Como cravou com sabedoria Mano Brown.
(Elias Aredes Junior)