Motivos esportivos para aposentar a camisa principal da Seleção Brasileira

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O futebol brasileiro entrará em campo amanhã contra a Sérvia. Corre o risco de ser eliminada da Copa do Mundo em caso de derrota. Apesar de contar com o empate e a vitória para conseguir a qualificação para a próxima fase.

Independente disso, acho incrível a CBF não ter discutido um assunto delicado, mas que poderia ganhar as ruas: a aposentadoria da Camisa Amarela como a principal.

Não, o motivo não é conotação política. Esqueça. Cada um veste o quer, da maneira que desejar e como quiser. Se pessoas consideraram que o uniforme amarelo era a forma de demonstrar patriotismo, tudo bem. Não é esse o foco. Para entender é preciso voltar no tempo.

Até 1950, o uniforme principal da Seleção Brasileira era todo branco. Com tais apetrechos, venceu, por exemplo, os Campeonatos Sul-Americanos de 1919 e 1949. Tudo desmoronou no dia 16 de julho de 1950. A vitória do Uruguai por 2 a 1, em pleno Maracanã, foi um trauma nacional.

A camisa branca ficou associada a humilhação, a derrota, a soberba injustificada.

Em 1953, um concurso feito pela CBD em parceria com o jornal Correio da Manhã, buscou um novo uniforme. Após o recebimento de 200 desenhos, o escolhido foi o trabalho feito por um garoto de 18 anos chamado Aldyr Garcia Schlee, que bolou um uniforme com base nas cores da bandeira brasileira.

Convenhamos: a escolha trouxe sorte. Com ela, ganhamos quatro Copas na partida final (1962, 1970, 1994 e 2002). A única vitória com uniforme azul foi em 1958, na vitória por 5 a 2 sobre a Suécia. Vimos craques da estirpe de Pelé, Garrincha, Tostão, Rivellino, Zico, Romário, Bebeto, Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e outros menos cotados.

Em diversas vezes, podíamos dizer que jogava sozinha. Bons tempos.

O Século 21 trouxe péssimas notícias. Conquistamos o título em 2002, mas daí em diante a camisa amarela foi o figurino de seguidos vexames: a bagunça de 2006, o pragmatismo sem razão de 2010 e desembarcamos em 2014…

Esta foi a Copa do Mundo responsável por destruir a mística e a credibilidade da camisa amarela. Especificamente a derrota por 7 a 1 na semifinal contra Alemanha. Uma tradução especifica para humilhação, derrota.

Trocamos o técnico,  boa parte dos jogadores para o Mundial da Rússia, mas confesso: a cada vez que o Brasil entra em campo, seja em qualquer parte do mundo, parece que o filme de terror de Belo Horizonte será revivido.

Tenho impressão de que Dante voltará, David Luís protagonizará novas trapalhadas ou que Júlio César voltará para ficar apalermado após cada gol alemão. A mística foi quebrada. Para sempre.

Ouso dizer: nem um possível título vai apagar. Está na hora de se pensar em uma nova “peita”, como diriam os jovens.

Que intimide e que traga respeito aos adversários. Que faça com que todo o país tenha um processo de verdadeira união nacional.

O que não dá é assistir esta camisa nos transbordar de vergonha e relembrar de um vexame sem precedentes. Parece besteira. Pode até ser. Mas os campeões perenes são feitos nos pequenos detalhes.

(análise feita por Elias Aredes Junior)