Na festa chique do futebol, a Ponte Preta não será aceita. O jeito é arrombar a porta!

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Quando eu era pequeno, o Jardim Amazonas, meu bairro de origem, sempre promovia torneios de futebol. Seja no campo sustentado pela associação de moradores ou até na rua. Era um bairro novo, década de 1980 e as crianças prevaleciam nestes eventos. Algumas oriundas do Jardim dos Oliveiras ou da Vila Georgina. Por vários anos eu esperava que alguém aparecesse com um convite para usufruir da emoção de ser um jogador. Nem que fosse por alguns minutos.

O tempo passou, frequentei escolas públicas no ensino fundamental e no colegial (hoje ensino médio) e tomei uma decisão: eu iria botar a cara na porta e brincar nem que fosse por alguns minutos. No início, alguns colegas estranharam. Depois a rotina ficou tão impregnada que minha presença não gerava resistência.

Você deve perguntar: o que esse artigo tem a ver com futebol e especificamente com a Ponte Preta? O raciocínio te ajudará. A diretoria da Ponte Preta tem  o comportamento que eu tinha na infância. Ou seja, a de que se fizer tudo direitinho, certinho, eventos de ponta e com técnico e jogadores eficientes, a agremiação será aceita no futebol brasileiro. De braços abertos.

Os gigantes com o passar dos anos não vão estranhar sua aparição no grupo de classificação ou até uma classificação para a Copa Libertadores. Apesar dos limites orçamentários imposto pela divisão de cotas. Independente do que acontecer no gramado. Um comportamento de mocinho fará com que alcance o final feliz nesta novela intrincada chamada futebol brasileiro.

A realidade fica escancarada a cada imprevisto no gramado. Intencional ou por incompetência, o fato é que Leonardo Garcia Cavaleiro tirou dois pontos da Ponte Preta no jogo contra o Colorado. Dois pênaltis não foram marcados e um chutaço de Maycon bateu no travessão e entrou. O juiz fez que não era com ele. São nesses instantes que sou obrigado a dar razão a torcida. A Ponte Preta nunca será recebida com sorrisos e como protagonista no futebol. A solução é arrombar a porta e participar da festa, custe o que custar.

O comportamento do torcedor na arquibancada, no dia a dia nas ruas ou nas redes sociais diz o óbvio: não adianta a Macaca bancar a mocinha da história. Não adianta exibir administração exemplar. Pouco resolve ostentar uma administração fenomenal. Observação: isso é bom, é lógico e em médio e longo prazo gera frutos perenes.

Só que para os donos do futebol brasileiro isto não tem valor nenhum. Zero. Quando digo donos eu me refiro a Rede Globo de Televisão, a Confederação Brasileira de Futebol e os integrantes do finado Clube dos 13. Eles não querem um campeonato democrático, disputado e equilibrado. Eles querem um campeonato feito com eles, para eles e só deles. Ponte Preta, Atlético Paranaense, Coritiba, Sport, Santa Cruz, América Mineiro, Figueirense, Vitória e Chapecoense não são bem vindos. São considerados bicos em uma festa elitizada, de black tie e cheio de pompa e frescura.

Como deixar esta festa restrita para alguns? Colocar algumas cascas de banana no caminho é uma boa solução. Árbitros ruins para conduzir os jogos das equipes médias contra as gigantes é uma estratégia. Outra é patrocinar a disparidade na distribuição das cotas.

A colheita ocorre na forma de história: desde 2003, apenas São Caetano, Atlético-PR, Goiás e Paraná conseguiram terminar entre os quatro primeiros colocados e participarem da Copa Libertadores do ano seguinte. Repare: dos quatro eleitos, apenas o Furacão disputa a divisão de elite. Sinal de que quem ousa sair da posição de coadjuvante e virar protagonista toma um belo chute nos fundilhos.

O jeito é desistir? Jogar a toalha? Conformar-se com a situação? Nada disso. A diretoria da Ponte Preta precisa entender que não são declarações protocolares que trarão efeito prático, como a melhoria do nível do nível de arbitragem. É preciso arrombar a porta, ser ousada, comprar com responsabilidade o desejo da torcida por um time competitivo e politicamente não se conformar com o fato do futebol brasileiro ser um clube fechado para poucos.

Estabelecer uma relação respeitosa com os dirigentes da CBF e com os próprios clubes, mas deixar claro que refuta e afasta qualquer papel de segunda classe. A Ponte Preta não quer serviçal. Não quer ser subalterna. Quer sonhar com algo melhor. De fato e de direito. Interpretar o papel do politicamente correto não deixará a Macaca perto do ideal. Pelo contrário. Sem arrombar a porta desta festa elitizada, o respeito nunca virá. Infelizmente.

(análise feita por Elias Aredes Junior- Fotos Assessoria de Imprensa-Ricardo Duarte- Internacional)