O Guarani é o líder do grupo B com 24 pontos na terceirona. Mais duas vitórias e a classificação estará assegurada no modo virtual. A torcida bugrina abraçou a causa, compareceu ao Brinco de Ouro diante do Tombense e deu o recado: com preço acessível, não vai deixar o time na mão.
Neste enredo sedento por contornos de final feliz, uma pergunta salta aos olhos: qual força interior produz combustível para o Alviverde superar suas limitações e pela primeira vez sonhar para valer com a disputa do acesso? Repare: em quatro anos de Série C, é a primeira vez que os dois jogos decisivos aparecem no horizonte bugrino. Se a promoção á Série B vai virar realidade ou não é outra história. Mas a vontade e o desejo de enterrar o passado explicam muita coisa.
A torcida do Guarani quer enterrar o passado de frustrações construídas desde 2012, última vez que disputou uma decisão relevante, no caso, do Campeonato Paulista. Desde então, o saldo é de dois rebaixamentos e seguidas campanhas decepcionantes tanto na Série A-2 como na própria terceirona.
As arquibancadas não suportam mais frustração atrás de frustração. Existe a percepção de que o passado pode ser enterrado de vez e a conquista do acesso poderá recolocar o Guarani em um patamar minimamente decente. A expectativa tem motivo: com 8 milhões de cota de televisão para uma possível segundona nacional em 2017, a dignidade retornaria ao Brinco de Ouro. Não é pouco.
Enterrar o passado também serve de motivação ao técnico Marcelo Chamusca. Trabalhador, estudioso, de fácil trato com os jornalistas e jogadores, o treinador tem um incômodo na carreira, as duas eliminações seguidas para o Fortaleza na Série C e em ambas com Castelão lotado. Pior: nas duas campanhas deixou o time na primeira colocação na fase inicial. Sempre ficou um gostinho de que algo faltou. Com o Guarani, Marcelo Chamusca quer colocar esses traumas no passado. Quer reafirmar no presente sua eficiência não só para os 18 jogos da fase eliminatória, mas para os confrontos que carimbam o acesso.
Que ninguém se iluda: Fumagalli busca enterrar o passado. Você pergunta: que trauma pode carregar um jogador consagrado, bem situado financeiramente, com família constituída e ídolo da torcida? Simples: dos atuais componentes do elenco, o camisa 10 bugrino é a única testemunha dos fracassos anteriores na Série C.
Fumagalli viu Tarcisio Pugliese ser vaiado na última rodada; presenciou Evaristo Piza e Marcelo Veiga quase chegarem as quartas de final; decepcionou-se por ter ficado fora das quartas de final do ano passado apenas pelos critérios de desempate. Inevitável ficar com o sentimento de torcedor. Carregar a decepção nas suas costas e buscar forças do além para viabilizar a conquista almejada. Um possível acesso é a chave de ouro de uma carreira construída com luta e dignidade.
Chamusca, Fumagalli e os torcedores do Guarani. Três personagens ávidos em construírem a história no presente para assegurarem o futuro e enterrarem um passado desconfortável.
(análise feita por Elias Aredes Junior- Foto de Israel Oliveira)