Começo este texto com uma confissão: há, em mim, uma sensação de estranhamento ao ler nas notícias esportivas a expressão “futebol gourmet”. Que argumentos justificam o termo? Arenas servindo capuccinos? Torcedores comportando-se como uma plateia de teatro? Lugares previamente agendados?
To fora!
Futebol é arquibancada. É festa. É sentir-se em casa, acompanhado de iguais. É olhar para o lado é encontrar a mesma paixão pelo time. O mesmo sofrimento com cada derrota. A mesma alegria de cada vitória. É entrar no discurso comum do
“- agora vai”; “ – tem que contratar”; ” – com esse goleiro ai não dá?; “ – que habilidade desse meia!”.
Futebol “in loco” é dividir o ar que se respira. Compartilhar cada suspiro. É emoção pura. Adrenalina do não ter o replay (por isso, não tire os olhos da bola).
Porém, tudo isso é algo que parece ter os dias contados. O torcedor está deixando de ir ao campo, seduzido pela possibilidade de acompanhar o time do conforto de sua casa. Ou no boteco, ao lado de amigos mais “diplomatas”. E com essa nem as arenas fazem frente.
O torcedor está questionando sua importância nas arquibancadas porque “dói” no bolso o alto preço dos ingressos. E, também, porque está cada vez mais difícil fazer festa nos Estádios. Se por culpa do Estado, do Município, da Polícia Militar, da Promotoria ou quer quem que seja, o espaço do torcedor está cada vez mais delimitado. Querem dizer qual lugar ocupar. Que expressões usar. Tiraram do clube até mesmo a autonomia no valor dos ingressos.
O resultado é justamente o esvaziamento da torcida no campo. Exemplo: em 80 jogos nas 8 primeiras rodadas Paulistão, 40% deles acumularam renda líquida negativa. Ou seja, o clube teve que colocar dinheiro para arcar com as despesas. A Ponte, assim como o São Paulo, o Mogi Mirim, o Capivariano e o Rio Claro, teve prejuízo na somatória de todas as suas partidas até agora.
Curioso observar também que na vitória contra o Votuporense, o Guarani tinha no estádio pouco menos de 1800 torcedores. E, ainda que levemos em consideração o fato de que muitos bugrinos não entraram em protesto pela desempenho ruim do grupo na A2 do Paulista, o clube estava entre os 10 principais temas do twitter durante o jogo. Ou seja, existe torcida, mas não a presença.
E o que fazer?
A Ponte Preta deu o exemplo e mostrou que o torcedor quer sim reatar o relacionamento e voltar ao Estádio. Atitude que deve servir de inspiração para outros clubes. Na promoção de trocar o ingresso por duas garrafas pets, foram mais de 9 mil presentes no Moisés Lucarelli. O maior público do ano. Há de se lamentar que o time tenha perdido, por 1 a 0, para o XV de Piracicaba, mas ter a casa cheia, mereceu comemoração a parte dos torcedores pelas redes sociais.
A diretoria da Macaca gostou do que viu nas arquibancadas. E resolveu colocar ingressos promocionais a R$ 10 e R$ 5 (na geral, atrás do gol) para o jogo contra a Ferroviária, neste sábado (12h30), às 18h30, em Campinas.
Para o vice-presidente do clube, Giovanni Dimarzio, resgatar o torcedor está entre as prioridades. Ele, no entanto, pondera que nem sempre baratear os ingressos é uma decisão da Ponte Preta. Pelo regulamento do Estadual, os valores são estipulados pela Federação Paulista de Futebol. A Macaca vem negociando a cada partida para conseguir a redução.
Outra observação de Dimarzio relaciona a presença no Estádio com o desempenho do grupo. Para ele, o bom público diante do XV de Piracicaba foi impulsionado pelas duas vitórias anteriores, diante de Audax e São Paulo. É uma avaliação positiva. Levar a torcida com a proposta de um bom futebol. Afinal, no Estádio, o que o torcendo quer mesmo é ver seu time ter garra, jogar bem, e somar mais três pontos.
(análise feita por Adriana Giachini)
Atualização 11/03, 13h38)