Ponte Preta: não existe nada melhor do que voltar para casa. Seu nome: Majestoso!

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Por 36 anos uma casa simples no Jardim Amazonas foi meu aconchego. Sem enfeites, cômodos amplos. Cara de popular, sem ser popularesco. Presenciei todas as etapas de construção, melhoria da casa e do bairro.

Sapos existiam por todos os lados e não era incomum comprar um quilo de sal em separado só para afastar os bichos. Uma sobra de dinheiro foi a senha para fazer um rancho, cimentado com acabamento de cera vermelha. Dona Ester, minha falecida mãe, teve o sonho de que um dia aquele espaço seria para uma cozinha ampla e que o restante seria ocupado por um quarto.

Demorou 20 anos para ver o sonho virar realidade. Os anos passaram e os investimentos para manutenção ficaram maiores. Nem por isso diminuiu o amor por aquele lugar de aconchego.

Arrumávamos as malas, visitas aos parentes aconteciam no final de ano mas nada substituía a sensação de retornar para casa. Sentar no sofá preto remendado e posicionada de frente para a televisão da marca Sharp, adquirida em 1982 e aposentada em 1994, após a conquista da Copa dos Estados Unidos. Vi tijolo por tijolo ser construído naquele lugar. A nostalgia por vezes exerce papel de refugiado no coração.

O turbilhão de emoções me faz conectar-se com o sentimento do torcedor pontepretano. Neste domingo não será um simples jogo de futebol. Não teremos a disputa de três pontos com o Fortaleza. Não, o acesso não estará em primeiro plano.

O principal é voltar para casa. Pode a arquibancada ser rústica, os banheiros serem deficientes, o estacionamento constituir-se em desafio ou os cambistas aparecerem para desafiar a lógica. O torcedor pensa: “É a minha casa”.

Nada disso importa. O torcedor, o apaixonado pela Ponte Preta, quer sentir a pontada em seu coração quando cruzar os portões do Majestoso.

Quer olhar e ver o busto de Moisés Lucarelli ou as portas laterais capazes de produzir sonhos e imaginação.

Encontrar o amigo querido, bater um papo, tocar em sua mão, dar um abraço afetuoso e ver duas camisas iguais tornaram-se uma por causa de uma paixão. Um sentimento que é independente de Copa do Mundo ou de jogadores galáticos.

Passar o cartão de entrada é o passaporte para reencontrar tanta gente querida. A alegria da Luiza, o jeitão despachado da Dalva, o otimismo do Décio Cardoso, da Rosana Grigoleto, da Renata Sanches ou de outros que não estarão em carne e osso, mas no coração.

Festa, comoção, alegria, choro, risos, tensão. Um turbilhão capaz de fazer renascer a esperança de dias melhores. Não porque o time é dotado de talentos esplendorosos. E sim porque o torcedor estará ali.

Quando o juiz encerrar a partida, independente do resultado, eu tenho convicção de que o torcedor pontepretano terá idêntica sensação que eu sentia quando voltava das minhas viagens para Guarantã (SP) e o táxi oriundo da antiga Rodoviária passava em frente à Escola Anália Ferraz da Costa Couto.

Não existia nada melhor do que voltar para casa. E o Majestoso vai além de uma casa. É a usina de amor e esperança do pontepretano. Que seja eterno enquanto dure.

(texto escrito por Elias Aredes Junior)