Uma reflexão sobre a ausência de público no Estádio Moisés Lucarelli

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Dois fatos são discutidos de maneira exaustiva entre os torcedores da Ponte Preta nesta quinta-feira. Em primeiro lugar, a vitória por 3 a 0 sobre o Grêmio e que lhe deu recuperação em instante decisivo do Campeonato Brasileiro. O outro dado alarmante é o público presente no Majestoso: 3713. Um resultado decepcionante, especialmente se levarmos em conta que a Macaca é o único representante do interior paulista no Brasileirão e com boa campanha: 38 pontos ganhos.

Ou você acha que antes da bola rolar, após o Paulistão com rendimento pífio, daria para acreditar que nesta altura da competição, a Alvinegra estaria a oito pontos de livrar-se da degola? Pois é.  As arquibancadas decepcionantes em boa parte dos jogos é um assunto complexo e com necessidade de reflexão.

Respostas imediatas dão conta de que o empate com o América Mineiro, lanterna do Campeonato, e o divórcio entre diretoria e arquibancada, expressa nas redes sociais é uma resposta pronta e acabada daquilo que foi registrado no borderô. Aceito estes argumentos como válidos e plausíveis, mas o tema vai além. Independente de fase técnica no gramado, uma pergunta deve ser feita: qual torcedor a Macaca deseja verificar na arquibancada?.

Hoje, no futebol brasileiro temos dois tipos de torcedores: o clássico “boleirão” com saudade do futebol à moda antiga e o torcedor “gourmet”, produzido nestes tempos de elitização gerado pelas arenas.

A primeira categoria, apesar de ficar contrariado, topa encarar qualquer dificuldade para assistir o seu time jogar. A saber: fila nas bilheterias, arquibancadas sem conforto, dificuldade para comprar um lanche no intervalo, entre outros quesitos. Claro, o ideal seria melhorar as instalações. Mas ele gosta do seu time. Quer vê-lo ao vivo no gramado. Ponto. Só existe uma condição: ingresso barato. Muito barato. Por que são pessoas das classes mais baixas, acostumadas a verem o futebol como seu único meio de satisfação.

Gente que por vezes ganha um salário minimo ou no máximo, R$ 2 mil e sequer tem condição de pagar o programa de Sócio Torcedor. Como não há previsão de dependente, se você é casado e tem dois filhos como pode pagar R$ 180 a R$ 200 por mês para assistir de três a quatro jogos por mês? Sem contar o estacionamento ou passagem de ônibus, alimentação, entre outras exigências. Ou seja, o “boleirão”, o apaixonado pela Ponte Preta e por futebol está distante do Majestoso. Assiste aos jogos por internet, rádio e vira-se como pode.

O duro é que o torcedor gourmet está inconformado. Para esse torcedor, o futebol não é caso de vida ou morte. É entretenimento. Lazer para ser compartilhado na família. Neste contexto, o seu desejo é pagar o que for pelo programa de Sócio Torcedor e ao entrar deparar-se com um estádio moderno, com arquibancadas aconchegantes, banheiros impecáveis, placar eletrônico de último tipo (de preferência com reprise dos principais lances) e uma praça de alimentação que lhe transmita a sensação de que está em um hotel de cinco estrelas.

Sejamos sinceros: o Majestoso tem condições de oferecer tudo isto? Não. Então, como é abastado no bolso, este torcedor paga o programa de sócio torcedor, mas prefere ficar em casa e acompanhar as partidas no pay per view. Ali, ele paga R$ 90 mensais, tem todo o conforto disponível e nenhuma dor de cabeça.

Os quadros descritos acima exibem um conflito involuntário gerado pela atual diretoria. Quer gerar dinheiro com bilheteria, mas não dá o retorno necessário em serviços. Estipula um ingresso de valor mediano mas não motiva o torcedor das classes A e B e afugenta aqueles das classes C, D e E, a razão de ser de qualquer clube popular.

O programa de Sócio Torcedor é útil, tem seus méritos, mas só terá uso pleno e justificado quando a Macaca construir a sua arena. Ali sim, tudo estará encaixado. Até lá, considero que o foco deveria ser o torcedor da classe mais baixa, responsável pela construção e transformação do Estádio Moisés Lucarelli em lugar mítico e inesquecível para os pontepretanos.

Contra o Grêmio, os ingressos tiveram os valores de R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) para a arquibancada central e no Espaço Família (antiga geral, atrás do gol) os valores eram de R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), com direito a pipoca e refrigerante. Acha barato? Antes de responder, pergunte a qualquer pontepretano com rendimento de um salário minimo o que ele acha do valor. Nem precisa perguntar. Você já sabe a resposta. E parece que não vai mudar por um bom tempo.

(análise feita por Elias Aredes Junior- Foto de Fábio Leoni- Pontepress)