A areia movediça da mediocridade vai matar o futebol campineiro

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“Saía do futebol e faça outra coisa no jornalismo. O povo gosta é de comentário arroz com feijão. Ninguém quer pensar”. Li esta frase de um querido amigo nesta semana. Não vou negar: doeu. No fundo, no fundo, ele quis dizer que a missão deste Só Dérbi é inglória. Nada vai mudar. Infelizmente sou obrigado a concordar.

Boa parte de bugrinos e pontepretanos pensam o futebol de modo raso, superficial. Abraçam frases feitas, lugares comuns como se estivessem no consumo de um prato de comida chinfrim.

Detestam comentaristas polêmicos.

Não querem ser incomodados. Encarar o futebol como entretenimento é cômodo.

Profissionais de imprensa dotados de um minimo de estofo intelectual são recriminados. Uma amiga minha, em determinada ocasião, deu uma explicação: “Quem gosta de futebol é majoritariamente homem, que no geral é vaidoso e orgulhoso. E não admite em hipótese alguma encarar uma pessoa que saiba mais do que ele. Em qualquer assunto. Então, o comentarista, o repórter, o narrador medíocre para ele é uma benção. A cada frase feita dita no rádio e na televisão vem a sentença: está vendo? Eu estou certo. O fulano pensa da mesma maneira”.

Potências como Ponte Preta e Guarani não resistirão muito tempo a este mar de mediocridade. Já sucumbem a céu aberto.

São consumidos ano após ano porque seus torcedores não sabem cobrar e tem conhecimento parco daquilo que está ao redor do futebol no Brasil e no mundo.

Nós, cronistas esportivos, temos boa parcela de culpa. Somos incompetentes ao buscar referências que façam Guarani e Ponte Preta crescerem. Deixamos de fazer jornalismo investigativo e analítico.

Faço a pergunta e que engloba até este Só Dérbi: quantas matérias na mídia local foram realizadas para explicar Cases de sucesso como os do Atlético Paranaense e Chapecoense? Respondo: nenhuma.

Somos reféns de uma cobertura provinciana, de uma ação entre amigos e que serve para ostentar orgulho em rodas sociais de que somos cronistas esportivos do que para colaborar para o crescimento das instituições. Não valorizamos conhecimento. Não damos valor a informação.

Tragédia completada com uma negligência: a falta de aproveitamento do saber existente na cidade de Campinas. Na semana passada, o Vôlei Renata fez testes na Unicamp. Utilizou a universidade para preparar-se para a Superliga. Quando Ponte Preta e Guarani fizeram algo similar de maneira sistemática? Nunca.

E por que não muda? Por que não existe salto de qualidade tanto entre dirigentes, jogadores, treinadores e nós da imprensa? Um economista certa vez disse que quando um país está em crise é porque alguém tem lucro.

O mesmo se aplica ao futebol campineiro. Os dirigentes não se mexem porque não querem perder o seu pedestal de poder. A imprensa também não abre as portas porque isso geraria o aparecimento de profissionais mais qualificados e automaticamente retiraria muitos do mercado de trabalho. E quem se atreve a tocar uma música diferente, a solução é simples: exclusão.

Estamos enfiados em uma areia movediça e nos afundamos cada vez mais. Pior: não há ninguém para estender a mão.

(análise feita por Elias Aredes Junior)