A Ponte Preta e sua participação na afirmação do negro no futebol brasileiro

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Neste dia 20 de novembro, a Ponte Preta e sua torcida teriam a missão (e talvez até a obrigação) de incentivar e participar deste dia da Consciência Negra, que em Campinas virou feriado graças a um projeto do então vereador Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, anos depois atuante como diretor de futebol da própria Alvinegra.

A história do time campineiro está intimamente ligado as lutas e reivindicações deste nicho da população. Cada gol, vitória ou revelação proporcionada pela Alvinegra foi de certa forma um triunfo dos negros em Campinas, no Brasil e no mundo.

O começo da Ponte Preta encarregou-se da formação deste cordão umbilical, com a participação de Miguel do Carmo, um dos fundadores do clube e reconhecido como o primeiro negro a atuar com um time profissional. Detalhe: no ínicio do Século 20, o futebol era um esporte elitizado, fechado as camadas mais pobres da população. Miguel do Carmo na Ponte Preta e o trabalho realizado por Bangu e Vasco da Gama foram vitais na abertura do esporte às camadas mais carentes da população.

Tal inserção não ocorreu apenas no gramado. Desde os seus primórdios, a Ponte Preta foi um clube popular, de massa e que atraiu a atenção e o amor dos negros residentes em Campinas. Caravanas eram realizadas para acompanhar a equipe e ao presenciar a quantidade expressiva de negros com a camisa pontepretana, os oponentes começaram a chamar tais torcedores de Macacos. O que deveria (e é) um xingamento racismo transformou-se em estopim para o surgimento da Macaca como mascote, único no futebol brasileiro.

Com tamanha identidade e abertura, a consequência natural seria a Ponte Preta virar um porto seguro para a trajetória de jogadores negros no futebol nacional. Não deu outra. Nomes não faltam para relembrarmos, como o ponta direita Sabará, atuante na década de 1950, o ponta esquerda Tuta, titular no time vice-campeão paulista de 1977 ao lado de Odirley. Posteriormente, não há como ignorar Dadá Maravilha (1978), Mineiro (2000) e Monga, que com seu jeito despojado e futebol calcado na força física teve papel único na construção do acesso na divisão intermediária em 1989.

Diante deste panorama exposto, conclusões óbvias são retiradas. A principal é de que a Ponte Preta é um clube popular e de massa. Do povo, para o povo e com o povo. Os negros – que são aproximadamente 350 mil em Campinas- não são coadjuvantes nesta história. São protagonistas, merecem respeito, reconhecimento e podem e devem ser reverenciados todos os dias.

Quando planos de elitização são lançados na Macaca, se por um lado poderá gerar recursos e riqueza para formar times mais competitivos, por outro retira da arquibancada quem deveria ser recebido com o tapete vermelho estendido no chão e não enxotado como intruso. Os negros no Brasil, de acordo com estatísticas de órgãos governamentais ganham 37% a menos do que os brancos. Alguém tem dúvida de quem paga a conta da elitização?

O Dia da Consciência Negra deve servir não só para homenagens e lembranças, mas como uma oportunidade para resgatar o papel histórico da Ponte Preta, que jamais pode esquecer de quem lhe ajudou a fincar raízes nesta arena chamada futebol brasileiro.

(análise feita por Elias Aredes Junior)