A Ponte Preta quer disputar para valer Paulistão, Copa do Brasil, Brasileirão e Sul-Americana em 2017? Vai ter que melhorar. Entenda os motivos

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Após o empate por 1 a 1 com o Palmeiras no Allianz Park, em São Paulo, boa parte da torcida da Ponte Preta não aceitaram as criticas dirigidas neste Só Derbi ao desempenho da Macaca. Desculpas e justificativas foram enfileiradas para obrigar a uma tomada de posição contrária do colunista. Respeito todas as visões, mas continuo com minha convicção.

Em primeiro lugar porque futebol não existe um ponto de vista solitário. Cada um vislumbra de uma maneira. Não existe fórmula pronta. Na concepção que adotei em ver o futebol a apresentação da Ponte Preta exibiu mais motivos para preocupações do que para otimismo. Pode reagir e exibir bom futebol contra a Ferroviária? Pode. Até por alguns motivos que vou exibir de agora em diante. O enfoque será no lado positivo:

Garra: Não há como esconder: o elenco gosta do técnico Felipe Moreira. Dedicou-se a cada minuto do amistoso e nunca fugiu das divididas. Transpirou. Correu e competiu como nunca, apesar da “perna pesada” de início de temporada. É bom, mas insuficiente.

Lucca: Recém contratado pelo Corinthians, mesmo deslocado de sua posição original, o lado direito, teve garra e

O jogador Tchê Tchê, da SE Palmeiras, disputa bola com o jogador da AA Ponte Preta, durante partida amistosa, na Arena Allianz Parque.
Lucca foi uma opção ofensiva na Macaca. Que pode ser melhor aproveitada em 2017

dedicação. Mas quem conhece a sua trajetória sabe que seu rendimento pode ser bem melhor.

Ravanelli: Técnico, com bom passe e articulador de boas jogadas. O melhor em campo contra o Palmeiras. Disparado. Escancarou um dos principais erros de conceito do técnico pontepretano. A seguir esticaremos a explicação.

Lins: Não se intimidou com a reserva, entrou em bom nível e protagonizou lances interessantes. Pode ser útil.

Viram como existiram aspectos positivos? Só que o futebol é como uma receita culinária. Não adianta contar com ingredientes de boa qualidade se o cozinheiro erra a mão ou tem dificuldade para viabilizar a massa de modo correto. É preciso evitar erros, equívocos para que tudo não desande em uma grande decepção. Neste caso, o técnico pontepretano pecou.

Antes, porém, uma explicação conceitual. Vale a frase dita por Chris Anderson, autor do Livro “Os números do Jogo”, uma obra que desmente alguns conceitos batidos do futebol. Ele declarou o seguinte ao jornal Zero Hora:

“Eu gostaria que nós, como torcedores, discutíssemos mais sobre fatos, sobre o que times, jogadores e técnicos realmente fazem, do que sobre as coisas que achamos ou acreditamos. Eu pessoalmente acho os fatos muito mais satisfatórios do que a ficção. Isso não quer dizer que não adore a emoção do jogo; sem ela, ele está morto. Mas ainda continuo querendo saber qual time é o melhor de verdade”.

Não estranhei a reação raivosa de alguns. A frase do jornalista inglês explica tudo. Temos crenças, dogmas e queremos impor no futebol a todo custo, sem ligar para as consequências. Temos dificuldades em analisar taticamente o jogo da bola, as estratégias dos técnicos. E estes se aproveitam deste fanatismo para se colocarem como deuses, acima do bem e do mal. Nesta primeira partida, Felipe Moreira flertou com o desastre.  Pode dar a volta por cima? Lógico que sim. É do ramo, trabalhou por anos e anos como auxiliar da Ponte Preta. O que não dá é tapar o sol com a peneira. Vejamos:

O jogador Tchê Tchê, da SE Palmeiras, disputa bola com o jogador da AA Ponte Preta, durante partida amistosa, na Arena Allianz Parque.
Capitão da Ponte Preta, o volante João Vitor perdeu a cabeça e foi expulso. Sinal de um time mal posicionado, o que gera afobação nas jogadas

Meio-campo sem armador: O problema não é montar um time com três volantes (João Victor, Matheus Jesus e Wendel). O ex-técnico Eduardo Baptista arquitetou a reação da Alvinegra no ano passado quando adotou tal estratégia nos jogos no nordeste contra Vitória e Santa Cruz.

Naquela ocasião, Baptista armou um esquema que pudesse atrair o oponente ao seu campo e com a retomada da posse de bola, utilizasse a bola longa para William Pottker utilizar o que tem de melhor, a força física e o poder de conclusão. Deu certo.

O que deu errado contra o Palmeiras? Felipe Moreira pensou na marcação e esqueceu do contra-ataque. Tanto que na etapa inicial – quando atuou o provável time titular da Ponte Preta- o atacante Lucca só conseguiu espaço quando voltava no meio-campo e puxava o contra-ataque. Procedimento inexistente na segunda etapa, quando entrou Ravanelli e o passe no meio-campo fluiu. Seja sincero: você acha que aquele trabalho de meio-campo do primeiro tempo será suficiente para ganhar do São Paulo e empatar com o Campinense pela Copa do Brasil.

Qual a saída? Se for um técnico ambicioso, a solução é escalar Ravanelli logo de saída. Caso ele caia de rendimento na parte física, utilizar no segundo tempo um volante para trancar tudo. Na atual construção, o time traz o adversário para o seu campo e não tem saída de bola. E se Ravanelli estiver em campo e sair atrás no marcador? Para pensar: não faltou a contratação de um armador para ter todas as possíbilidades á disposição? Pois é.

Posicionamento da defesa, Bola parada e jogadas aéreas defensivas: Este foi o calcanhar de aquiles. Qualquer torcedor da Macaca com um mínimo de bom senso tem que levar em consideração alguns fatores. O Palmeiras, ao contrário do que se esperava não imprimiu a velocidade e intensidade que lhe deram o título brasileiro. Seu jogo ficou cadenciado e cheio de passes errados. Nas poucas vezes em que voltou com seu estilo penetrou na defesa campineira com facilidade e só não balançou as redes graças a trave e a aparição do goleiro Aranha.Na jogada pelo alto, a Ponte Preta ganhou poucas bolas e teve ineficiência na segunda bola. Ora por falta de posicionamento da defesa e em outros instantes porque os atacantes palmeirenses se antecipavam. Faltou posicionamento mais azeitado.

No caso da bola parada, percebia-se alguns desacertos no posicionamento dos beques e em algumas oportunidades até da segunda bola. Por que tal preocupação? De acordo com levantamentos dos professores Mário Bonfanti e Angelo Pereni, autores do livro “Fútbol a Balón Parado“,50% dos gols marcados no futebol moderno são originados em lances de bola parada. O Palmeiras não aproveitou. Outro adversário pode ter melhor sorte se os vacilos persistirem.

Atacantes fora de posição: Lucca foi consagrado no Criciúma e no Corinthians como atacante centralizado ou no

O jogador Vitor Hugo, da SE Palmeiras, em jogo contra a equipe da AA Ponte Preta, durante partida amistosa, na Arena Allianz Parque.
Pelo alto, a Ponte Preta teve dificuldades para vencer os oponentes palmeirenses

lado direito; Clayson teve alguns bons momentos na Ponte Preta com jogadas de explosão pela esquerda. Felipe Moreira inverteu os dois. Talvez com a justificativa de buscar o chute em diagonal ao entrar em disparada na grande área. Um custo-benefício bem reduzido sobre aquilo que podem ser produzidos pelos dois nas suas funções corretas.

Violência fora de hora: A expulsão de João Victor em jogo amistoso e os cartões amarelos sofridos pela Alvinegra foram a faceta de um time que pecou pela violência. Pode ser problema físico e pode ser corrigido no domingo contra a Ferroviária? É possível. Mas ignorar e colocar o defeito debaixo do tapete não dá.

A comparação com o futebol atual: Não queremos que a Ponte Preta dispute as principais competições? Que chegue as finais do Paulistão, Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana? Então a excelência, apesar das restrições orçamentárias deve ser em relação aos gigantes ou times do mesmo porte da Macaca inseridos no Brasileirão. Como pedir excelência se eu recuso igualar-me a quem está neste estágio?

Tudo fica retorcido. O São Paulo jogou a Florida Cup, sob o comando de Rogério Ceni, exibiu uma formação no 3-4-3 e por vezes com variação no 4-1-4-1. O Criciuma, sob o comando de Deivid, tem suas limitações mas deixou de exibir variações táticas e um contra-ataque bem azeitado contra o Fluminense. Perdeu o jogo, mas teve perspectiva. A Chapecoense perdeu um time inteiro no acidente áereo, precisou remontar toda a sua equipe e o técnico Vagner Mancini já mostrou um bom serviço tanto no sistema de jogo como em conceitos básicos como passes, bola parada e opções de banco. Responda: a Ponte Preta está no mesmo estágio? Pense, compare com os outros e reflita.

Tudo está perdido? Nada disso. A Ponte Preta pode muito bem utilizar a semana de treinamentos para corrigir as falhas e produzir um futebol de excelência no domingo que vem contra a Ferroviária, no Majestoso. O que não dá é colocar para debaixo do tapete uma obra que encontra-se no estágio do alicerce. E por enquanto não sabemos como e  quando estiver pronta.

(análise feita por Elias Aredes Junior- fotos César Greco-Agência Palmeiras/Divulgação)