Análise: Ponte Preta e a pressão da torcida em tempos de pandemia e redes sociais

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Ao colocar na tarde de quarta-feira uma matéria sobre a pressão que a torcida da Ponte Preta exerce nas arquibancadas, fui saudavelmente provocado pelo jornalista André Procópio Sales. Ele argumentou que em virtude da pandemia do coronavirus, a ausência de publico nas arquibancadas poderá ajudar alguns jogadores que tenham algum traço de timidez.

É um tema bom. Especialmente na Ponte Preta. A sua história dá mostras que as redes sociais têm  poder incalculável. Faz tremer os gabinetes e direciona decisões. Vou relembrar três casos para fundamentar a tese.

Em julho de  2014, a Macaca estava a procura de um técnico após a saída de Dado Cavalcante. Não encontrava. Até que na surdina, o então presidente Márcio Della Volpe acertou com o ex-volante e hoje comentarista Ricardinho, que na época encontrava-se na carreira de treinador.

Bastou a noticia vazar pelas rádios que uma avaliação formou-se no facebook, twitter e em todas as redes sociais. O protesto foi veemente e claro: o torcedor não queria. No mesmo dia, o acerto foi desfeito e no final da noite, ao saber da demissão de Guto Ferreira do Figueirense, a sua contratação foi sacramentada.

Querem outro exemplo? No início de março de 2017, a Macaca procurava treinador. Eis que Adilson Baptista foi contratado. O alarido foi tamanho que o próprio ex-zagueiro entrou em contato com a diretoria e declinou do convite.

Em agosto do ano passado, O Guarani flertou (vou repetir: flertou!) com Gilson Kleina. O técnico nunca demonstrou interesse, mas bastou uma sinalização do principal rival para que a diretoria acelerasse e contratasse o profissional. E por que? Muitos torcedores pontepretanos deixaram claro em grupos de Whatsapp e de Facebook que não admitiriam um técnico histórico do clube com a camisa do rival. Pedido feito, pedido aceito.

Direto na veia: se a torcida, com um teclado na mão, já foi capaz de impedir chegada de treinador ou acelerar a contratação de profissionais, como descartar a hipótese dessa pressão ser ainda mais efetiva nesta época em que as arquibancadas estão fechadas.

Eu, se fosse dirigente de futebol, contrataria uma empresa especializada em monitoramento das redes para checar as reação da torcida do meu time em relação a cada passo dado. Se a Ponte Preta não tomou tal providencia deveria pensar seriamente. O mundo mudou. Não dá para ficar preso a dogmas do passado.

(Elias Aredes Junior)