Análise: virtudes e defeitos do documento do Movimento Renascer Pontepretano, a nova mobilização política dentro do clube

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O Movimento Renascer Pontepretano iniciou a divulgação de suas ideias nesta semana. Um folder foi colocado à disposição de emissoras de rádio, portais, jornais, televisões e jornalistas. No geral, é uma mobilização de pontepretanos para pontepretanos. Deseja resgatar os preceitos originais da agremiação.

O documento traz notícias para serem analisadas. Em primeiro lugar, a iniciativa de aumentar o quadro associativo. Ou seja, de trazer receita a agremiação e promover modificações no estatuto. Em dado trecho, existe a promessa de apurar possíveis irregularidades. Se for tudo dentro da lei e com auxilio das autoridades competentes (leia-se: poder judiciário), a Ponte Preta só tem a ganhar.

Colocar orçamento para a Construção de um Centro de Treinamento e a perspectiva de reformulação do Majestoso demonstra dois fatos: existe um direcionamento e uma diferenciação em relação ao atual grupo político que está no poder. Assim como a intenção de profissionalizar todos os departamentos não há como negar que são boas ideias.

Só que o documento também exibe problemas. Lacunas que depõe contra a própria história da Ponte Preta, marcada pela democracia, inclusão, debate e participação de todos. A principal é a ausência de qualquer alusão a um possível retorno ou reformulação do Conselho de Supervisão na Ponte Preta.

Instituto presente no estatuto anterior, a ideia básica do Conselho de Supervisão é de compor um colegiado de sete ou 10 conselheiros natos para avaliar sobre os atos administrativos e de movimentação financeira da Macaca. Não teria a intenção de tutelar ou censurar,  e sim de construir argumentos para fornecer subsídios ao Conselho Deliberativo, a quem caberia a palavra final. Um instituto democrático. Por que não foi abordado? Deveria.

Também faltou uma explicação mais direta sobre que papel terá Conselho Deliberativo. Poderá interferir nas negociações de atletas, como acontece em clubes como o Santos? Ou será apenas carimbador das ações da diretoria executiva? É algo que precisa ser respondido.

Já cobrei a existência de um nome para se apresentar perante o público como representante do movimento. Como o grupo da situação ainda não definiu o seu nome na disputa, nem é prioritário. Agora, algo é urgente responder: qual será o perfil administrativo e político dos integrantes deste grupo se tomarem o poder?

Vivemos tempos diferenciados. O futebol reflete a sociedade. Percebam que assim como o mundo registrou a eleição de governantes focados no autoritarismo e na busca da destruição da legitimidade dos opositores ( o que de certa forma destrói a democracia e a liberdade de expressão) o futebol seguiu essa tendência ao escolher governantes que dirigiam seus clubes com mão de ferro, como André Sanchez no Corinthians, Eurico Miranda que ficou anos e anos no Vasco da Gama e Rodolfo Landim, que ao vencer a eleição no Flamengo foi beneficiado pelos resquícios restantes de tal tendência.

Os tempos mudaram. Aqui e ali, independente da coloração ideológica, diversos países demonstram cansaço de personalidades que batem na mesa e são voluntariosos. O autoritarismo começa a cair em desuso. Alberto Fernandez na Argentina e Joe Biden nos EUA são modelos desse cenário.

O futebol ficaria excluído? Nem pensar. Júlio Casares no São Paulo, Duilio Monteiro Alves no Corinthians, o próprio Mauricio Galliotte no Palmeiras e recentemente Jorge Salgado no Vasco da Gama e Guilherme Bellintani exercem o poder com idêntico perfil: amabilidade, inclusão ao dialogar e sem fechar as portas para os opositores. Separam aqueles que genuinamente amam o clube dos mal intencionados. Dirigentes que não renegam os novos tempos do futebol. Este perfil existe dentro do MRP? Se existir, ótimo. Caso contrário, é motivo para profundas preocupações.

Independente de reservas em relação ao texto base, só o fato de articularem um movimento político de oposição é sinal de que a Ponte Preta pode até encontrar-se ferida institucionalmente. Mas está viva. Isso importa. Muito.

(Elias Aredes Junior)