Avallone, Osmar Santos e Brasil de Oliveira: como formar fãs de futebol sem talentos desse naipe?

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A semana começou triste para o Jornalismo Esportivo com o falecimento de Roberto Avallone. Um dos pilares da editoria de esportes do Jornal da Tarde. Pautas profundas e que fugiam do trivial. Na televisão, encarnou um personagem e hoje descobrimos sua importância.

Foi peça fundamental para que crianças e adolescentes, em uma era antes da disseminação da televisão a cabo e da internet cultivassem o amor pelo futebol. Entre 1994 e 1998 quem tinha de 14 a 15 anos e residia em São Paulo e sintonizava a TV Gazeta certamente teve em Avallone um farol, um bussola. Como Osmar Santos, na década de 1980, com seus bordões e carisma cativou milhões de crianças pelas ondas do rádio. Eu fui uma delas.

Em comum, esses dois personagens apresentavam formação cultural sólida, raciocínio rápido e capacidade de criar gírias que caiam na boca do povo. E dos adolescentes. Inconscientemente eles foram responsáveis pela formação de um novo público para o consumo do futebol. Que posteriormente na fase adulta tinha mais proximidade com Juca Kfouri, PVC, Mauricio Noriega. Mas sem figuras como Avallone e Osmar Santos, não há como ficar afeiçoado a este segundo grupo.

Um dos motivos da crise que assola o futebol campineiro e o crescente desinteresse reside na ausência em toda a crônica esportiva deste perfil de profissional. Uma pessoa capaz de criar, inovar e ao mesmo tempo ser reconhecido, nem que seja na sua seara profissional, como uma pessoa de sólida formação intelectual.

O ultimo que tivemos em Campinas foi Brasil de Oliveira. Pouca gente sabe, mas Brasa era culto, politizado, doido por música e curiosidades mil. Chegou até a ajudar na formação acadêmica de filhos de amigos. Com o microfone, formou uma legião de fãs de futebol com seus comentários e com o programa “Você pergunta e o Brasa Responde”, veiculado aos domingos, às 13h, na Rádio Central. Ali cabia de tudo.

Em 60 minutos de programa, Brasa era uma máquina de reproduzir escalações, epopeias de equipes do passado e contar histórias e mais histórias. Sua morte, em 10 de setembro de 1996, coincidência ou não,  determinou o fim do cronista esportivo popular, capaz de formar opinião e dono de bordões e expressões que caiam no gosto do povo.

Lógico, todos os profissionais de imprensa de Campinas na atualidade tem seu valor e cativam uma parcela relevante do público. Fizeram história e trajetória. Mas Brasil de Oliveira, assim como Avallone e Osmar Santos, conseguiu galvanizar uma legião de fãs ao futebol. O desaparecimento de Avallone faz com que uma pergunta martele minha mente: quando teremos algo semelhante novamente em Campinas? Esperança não pode morrer. (análise feita por Elias Aredes Junior)