Especial: uma reflexão sobre o papel dos patrocinadores da imprensa esportiva na melhoria do futebol campineiro

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Em uma das minhas navegações nas redes sociais no domingo, deparei-me com uma análise provocativa. Um internauta dizia que não financiava em hipótese nenhuma qualquer veiculo de comunicação esportiva de Campinas. Reclamava da qualidade. Deixa a desejar em sua opinião. Concordo com ele.

E não tiro este Só Dérbi do balaio.

Fazemos dentro do nosso limite um jornalismo voltado à fiscalização do poder e cobertura dos fatos. Mas poderia ser melhor. Agora, uma reflexão precisa ser lançada. Perigosa eu diria, mas necessária. Pergunta simples: como os patrocinadores poderiam auxiliar na melhoria do produto? Ou eles consideram que está tudo bem?

Nos últimos anos, a análise que sempre me deparo por parte de torcedores comuns, seja de Guarani e Ponte Preta, é a mesma: a imprensa local abusa das brincadeiras, apela ao entretenimento fácil e não fiscaliza o poder.

Ou seja, existe silêncio de muitos profissionais em relação aos problemas gerados pelo grupo político de Sérgio Carnielli ou no que diz respeito às atitudes tomadas pelos presidentes do Guarani. Quando acontece uma reflexão é sempre quando há o fato consumado. Não há acompanhamento. Ponto.

Jornalismo para ser minimamente bem feito custa tempo, esforço intelectual e dinheiro em última análise. Não serei louco e nem leviano de considerar que as empresas não se interessam por esse nicho. A Folha de S. Paulo transformou-se no jornal mais lido e lucrativo do país (ou seja, com publicidade!) com um jornalismo critico e de cobrança. Inclusive na área de esporte, cuja melhor definição é de Paulo Vinicius Coelho, que considera o único jornal com eficiência para cobrir política no esporte.

Posso citar o Lance e a própria ESPN como exemplos de empresas que apostaram em um jornalismo sério e destemido e não só colheram credibilidade, como também encheram o caixa para pagar os salários e encher os bolsos dos acionistas. Nada mais justo em um sistema capitalista.

O que provoca minha reflexão é porque nestes anos e anos de reclamações de ouvintes, leitores e telespectadores, os principais financiadores da imprensa esportiva em Campinas jamais questionaram abertamente a qualidade do trabalho feito por nós. Não sou publicitário, mas considero muito pobre a explicação de que basta ter retorno comercial que está tudo bem. Não, não está.

Jornalismo é uma prestação de serviço à sociedade e uma arma para esclarecer e formar. Penso com meus botões: será que não existe em Campinas uma empresa sequer interessada no saneamento e na transparência dos nossos clubes? Se os atuais patrocinadores têm tal interesse (e eu acredito que tenha!), porque nunca se manifestaram? Por que nunca juntaram coro com os torcedores, o seu público e exigiram (inclusive deste Só Dérbi) uma obsessão dos jornalistas esportivos campineiros em relação aos desmandos dos nossos cartolas? Não algo sazonal, esporádico, quinzenal ou semanal, mas cotidiano, sem possibilidade de cessar.

Interessante é observar que geralmente entram para a história os jornalistas esportivos focados em exercer o oficio de modo crítico, sem cederem ao entretenimento fácil. Os profissionais boleiros, sedentos para defenderem jogadores e dirigentes? Esses até enchem os bolsos ao apostarem na alienação e na manipulação do público. Mas ficam na poeira da história.

Que os empresários não entendam este artigo como represália. Nada disso. Temos apoiadores neste Só Dérbi e no qual somos muito gratos. Mas é por entender que são uma parte importante deste quebra cabeça que compreendemos que podem avançar e exigir mais e mais. Não ficar apenas no retorno de seus negócios, algo essencial e vital. Mas terem a sabedoria de entrarem no debate da opinião pública para colaborarem e forçarem o jornalismo esportivo campineiro a destruírem o véu de desconfiança e cumprir a missão para qual deveria ser destinado: o interesse do torcedor.

(artigo escrito por Elias Aredes Junior)