Guarani e uma obsessão: que a dignidade permaneça no gramado até o final da temporada

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O que é o futebol?

Vitória?

Consagração de ídolos?

A bola entrando no ângulo?

O craque que vira deus com um par de chuteiras?

Sim, é tudo isso. E muito mais.

Futebol é alegria, tristeza, decepção, amargura, delírio, força, determinação e coração. Coração. Coração que bate mais forte quando estamos ao lado dos nossos. Quando abraçamos desconhecidos, parentes, amigos, e colegas na celebração de um gol. Um instante que dura 10, 20 segundos. E que fica eternizado na mente das pessoas.

Futebol também é comunidade. Ajuntamento. Aglomeração. Congraçamento. Quem é torcedor do Guarani, quem tem o verde como uma de suas paixões, enrolou a sua bandeira, vestiu a sua camisa e acompanhou com fervor e paixão a epopeia contra o Corinthians na Neo Quimica Arena.

Jogo difícil. Pegado. Disputado. Cada palmo do gramado era equivalente a um latifúndio de esperança. E parecia que ela iria embora quando Gil subiu mais que o defesa bugrina e meteu para o gol. Festa no estádio corinthiano. Apreensão na mente e no coração de cada bugrino espalhado pelo Brasil.

O futebol é mistura de drama e comédia. Um teatro a céu aberto em que os atores ora desempenham o papel de heróis em outras de vilões. E a história poderia ser diferente. E foi diferente. Impulsionado pela paixão e esperança de milhares de bugrinos, o zagueiro João Victor deixou tudo igual.

A partir dali, o que se viu foi um Guarani que fez jus a sua história. Uma equipe que justificou a empatia produzida pelo torcedor. Limitado sim. Mas com alma. Sedento pela bola e por segurar o resultado. O que era previsão de goleada virou uma cartilha a céu aberto daquilo que pode ser chamado um futebol jogado com honra e dignidade.
Sim, evidente que os torcedores queriam a classificação. Claro que existe a frustração por não ficar entre os quatro primeiros. Mas após o apito ficou o alento proporcionado pelos jogadores e a comissão técnica comandada por Daniel Paulista.

Crônicas podem ser embaladas por uma músicas emblemáticas. Uma delas tem o título de “É”, interpretada pelo genial Gonzaguinha. Gênio da nossa música, falecido em 1991 em um acidente automobilístico, Gonzaguinha foi um dos poucos que conseguiram traduzir a alma popular.

A canção fala de algo precioso: desejo. O desejo das coisas simples, de alcançar sentimentos, comportamentos e circunstâncias que fazem qualquer ser humano feliz. Saúde, Liberdade, carinho, atenção. Queremos ser uma nação. Queremos exercer a cidadania.

Pois é. E pense também que aquilo que o torcedor bugrino testemunhou pela televisão é o que ele deseja. Um time para chamar de seu. Um clube que respeite sua identidade, sua força, suas características. Uma equipe que vista a camisa e que saiba o tamanho da responsabilidade envergada. Porque somente contra o Corinthians? Por que essa postura altiva e positiva não pode ser repetida nos 38 jogos da Série B do Campeonato Brasileiro?

O que impede?

Não estamos falando de técnica, habilidade, capacidade de decidir jogos. Falamos de algo muito mais profundo: sentido comunitário. É calçar a chuteira sabendo que em cada homem ou garoto vestido com a camisa verde e branca existem sonhos, desejos. E eles podem e devem ser realizados.

O Guarani está fora do Campeonato Paulista. Mas o time saiu do campo e foi em direção para dentro de cada coração bugrino. Que bate forte e agora tem a esperança de viver dias melhor. É possível realizar. Basta querer.

(Elias Aredes Junior-Foto de Thomaz Marostegan-Guarani F.C)