Guarani, personagens com cara de pau e um futebol que nunca evolui

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Estava em busca de um tema, uma abordagem diferenciada para falar do Guarani após a contratação de Bruno Pivetti e o início do planejamento para a Série B do Campeonato Brasileiro e a 17 dias da da largada contra o Avaí. Queria algo que definisse com exatidão o processo. Até que na minha mente veio a música “Cara de Pau”, com interpretação da dupla Ana e Angela. Sucesso na década de 1970.

A expressão cara de pau parecia ser adequada para definir muitos daqueles que ocuparam postos chaves no Guarani nos últimos anos. Porque, no fundo, existe um comportamento padrão, uma forma de tratamento diante dos assuntos que sempre acaba mal para a agremiação e nunca existe a devida reflexão.

Cheguei a conclusão de que a forma pejorativa da expressão não se encaixava. Solução? Corri para os dicionários que tenho em casa. Eles poderiam oferecer uma resposta. O Dicionário Aurélio deu algumas definições e uma chamou minha atenção. A de que uma pessoa cara de pau ou cara dura nada mais é do que é uma pessoa imprudente. E o que é uma pessoa imprudente? É uma pessoa que não tem prudência, moderação, precaução e ponderação. Ou para utilizar a definição dos “pai dos burros” quem é prudente aquele que “busca evitar tudo o que acredita ser fonte de erro ou dano”.

Ao ler as definições da expressões no dicionário Aulette deparei-me que cara de pau ou cara dura é uma pessoa atrevida ou que tenha desfaçatez, que é a atitude ou ato de quem invade os limites ou direitos de outrem.

Torcedor do Guarani, pense comigo. Reflita. O mundo político do Guarani nos últimos anos não ofereceu por parte de seus autores todas essas características? Os atores políticos nos últimos 15 ou 20 anos não foram proeminentes neste tipo de comportamento?

Só pessoas desprovidas de ponderação e prudência podem considerar normal a cada ano realizar contratações em cima de hora ou realizar remendos durante o segundo turno. Só pessoas imprudentes são capazes de pouco se importarem com a ausência de construção de uma arena, de um Centro de Treinamento e de uma Sede Social, equipamentos prometidos em uma sentencial judicial que foi proferida há quase oito anos. Repito: oito anos!

Somente pessoas atrevidas e sem se importar com os direitos de outrem podem considerar normal que o Guarani fique quase 20 dias sem treinador e deixe para anunciar reforços às vésperas do período de inscrição. E isso não está sendo feito agora.

É um procedimento enraizado, presente no cotidiano do Guarani, independente do Superintendente Executivo de Futebol ou do dirigente de plantão. Ou seja, o sistema político do Guarani infelizmente fornece subsídios e instrumentos para que seus atores políticos tenham o comportamento tipicamente de um cara de pau.

Repito: não é algo relacionado a nomes. É um sistema definido e eleito como vitorioso. Quando não é.

Um clube que fornece tais predicados para que um ator político da vida institucional do Guarani comporte-se como um cara de pau não sabe que está cavando sua própria sepultura. Desde que voltou para a Série B, apenas em 2018 e 2021, o Guarani sonhou com o acesso.

Nos outros anos, contentou-se com a manutenção. E como avaliaram os atores políticos bugrinos? Tudo normal. Nada de acidental. Enquanto isso, a torcida chorava, reclamava. E eles? Tinham atitudes que transpareciam não se importavam. É, típicos de caras de pau.

Evidente que desejamos o êxito de Bruno Pivetti. Todos querem ver o Guarani no topo. Como protagonista, nunca como coadjuvante. No entanto, sem diálogo franco, estabelecimento de metas e uma conversa olho no olho com torcedor, fica difícil pensar em algo positivo. Infelizmente, quem atua na política do Guarani parece querer uma hora se estrepar. E levar o torcedor junto no rumo do abismo. Infelizmente.

(Elias Aredes Junior com foto de Rafael Ribeiro/CBF)