Guarani: uma homenagem para quem preserva uma história centenária

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Como forma de homenagear os torcedores do Guarani, no dia do seu aniversário, reproduzo aqui parte da matéria principal do caderno que fiz para o Jornal “Tododia” no dia da comemoração do centenário. Os homens citados nesta matéria são ícones na preservação da memória e merecem ser homenageados. Não esquecer que atualmente conta com um Memorial, conduzido por abnegados. Confira  a reportagem:

“Buscar, pesquisar e descobrir fatos históricos são grandes desafios. Relíquias que expliquem a origem e o destino de fatos, lugares, pessoas e instituições são verdadeiros troféus. Na série “A lenda do Tesouro Perdido”, o protagonista Nicolas Cage vive o professor Ben Gates, que a partir de uma pista, ao lado de seus auxiliares, corre atrás da descoberta de um objeto que explique um fato. Como o professor Ben Gates, muitos torcedores são verdadeiros perseguidores de tesouros perdidos.

Para a sorte do Guarani, uma equipe de voluntários desempenha tal papel com prazer. Mesmo que de maneira involuntária, esses homens casados, com família e afazeres profissionais, dedicam parte do cotidiano para desvendar a história do Bugre pelo Brasil e pelo mundo. 

Nos três encontros que a reportagem do TodoDia teve com este bando de malucos (pelo Guarani) para a apresentação da grande maioria dos objetos-tema deste caderno, o cenário era idêntico: carros lotados de preciosidades. 

Cada um tem uma história para explicar sua paixão em tentar reconstruir os 100 anos do Guarani, completados hoje. Fernando Pereira relata que desde os cinco anos de idade guarda tudo relacionado ao Bugre. Aos 11, sua tia, em uma mudança de residência, jogou fora sua primeira coleção. Não houve desespero. O hobby recomeçou e ganhou força nos anos 80, ao trabalhar em São Paulo. “Existem (em São Paulo) jornais que não existem aqui e que podemos consultar”, justifica Pereira.

 Antes de trabalhar na Capital paulista, encontrou um aliado, Celso Franco, que considera o trabalho de pesquisador a manutenção de uma dinastia. Seu avô era um bugrino interessado em guardar jornais, revistas, peças e objetos relacionados ao clube, procedimento seguido por seu pai e que agora ele mantém a ferro e fogo, graças ao auxílio do amigo. “Tenho com o Fernando uma amizade de 30 anos”, conta Celso.

 José Ricardo Mariolani é o fecho da trinca, com a divulgação sistemática pela Internet de fichas técnicas e do relato da trajetória de jogadores e treinadores que passaram pelo Brinco de Ouro. Hoje, um depende do outro para continuar a caminhada. “Juntamos os três e temos a história do Guarani”, disse Pereira, que acelera a produção de um livro para comemorar o centenário e um almanaque com todas as fichas técnicas dos jogos disputados até hoje pelo Guarani.

 Tadeu Datovo e Luis Smânio Neto lutam pela memória sem esconder a identidade de torcedores, que aliás fazem questão de exibir com orgulho. Mas acrescentam uma pitada de excentricidade. Smânio, no encontro com o TodoDia, apresentou uma caixa cheia de camisas oficiais do Guarani das décadas de 70, 80 e 90, e dos dias atuais. “Tenho vários objetos em uma propriedade particular em Jaguaríuna”, revelou Smânio em um dos encontros com outros colecionadores bugrinos na sucursal do TodoDia em Campinas. Datovo, por sua vez, alimenta um carinho especial por todas as peças recebidas no tempo em que comandou a Guerreiros da Tribo, considerada na década de 80 a principal torcida alviverde.

 Cansados? Muito pelo contrário. Ninguém pensa em parar. O motivo é simples: o futebol brasileiro não preserva sua memória e alguém precisa ocupar este espaço. “Se deixarmos (os objetos) no clube, desaparece”, lamenta Pereira. (…)”

(Publicado no Jornal Tododia no dia 02\04\2011)