Jornalismo Esportivo em Campinas e a missão urgente: convencer crianças e adolescentes a consumirem notícias e análises. Como conseguir?

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Neste dia 12 de outubro comemora-se o dia da Criança. Eis que em plena tarde eu fico preocupado com o destino de nossa profissão. Para ser mais específico com aquilo que é feito em Campinas, seja no rádio, televisão, portais de internet ou jornais.

Não tenho pesquisa em mãos. Meu testemunho é empírico. Não dá para fugir da constatação que o público que consome jornalismo esportivo em Campinas envelhece dia após dia.

Faça um tour pelas rádios e portais de internet. Encontre um comentário, uma mensagem de áudio ou texto que seja de autoria de um adolescente de 15 a 18 anos. Dificilmente você encontrará. Quem consome futebol campineiro na atualidade está com idade acima de 30 anos. Ou seja, em médio e longo prazo, este público pode diminuir cada vez mais e o quadro ficar dramático.

Não era assim. Nas décadas de 1980 e 1990, o rádio era a porta de entrada para o consumo de futebol na cidade. Uma figura era destacada: Brasil de Oliveira. Se existem jovens na faixa de 35, 40 anos com interesse na bola que se joga em Campinas é porque o “velho Brasa” com seu jeito despojado hipnotizou uma garotada que segue até hoje no futebol local.

Uma das últimas centelhas de renovação estava na direção de  Paulo do Valle, o PDV e continua com Julio Nascimento. Com sua linguagem despojada e maluca (no bom sentido) PDV conseguia atrair ouvintes jovens para a Rádio Central. Sua ida para a Rádio Bandeirantes São Paulo é lacuna que não foi preenchida. Quanto a Julio Nascimento, seu caminho trilhado é de uma renovação de linguagem tanto na apresentação de programas como na narração.

Só que não posso colocar a responsabilidade no garoto de 25 anos se ainda existe falta de sintonia em relação ao público jovem ou na atração dessa faixa etária.

Estamos envolvidos em nossos próprios vícios e procedimentos feitos durante décadas. Com a internet  um novo público foi formado por intermédio de podcasts e páginas voltadas apenas aos clubes. Que nutrem qualidades, como a facilidade de dialogar com torcedor e capacidade de aprofundar assuntos com tempo infinito. Mas inserem um defeito: a eliminação do oponente no consumo da noticia. Fruto da sociedade polarizada em que vivemos em que elegemos o outro lado como inimigo e detentor de todos os defeitos. É assim na política, na música.

Não seria diferente no futebol.

Em uma cidade com rivalidade tão intensa como Campinas, esta posição de exclusão fica ainda mais evidente. Corremos o risco de criarmos jovens e adolescentes especialistas em Ponte Preta e Guarani mas incapazes de conviver ou aturar com o diferente. Resumo: mais combustível para a violência. No fundo, sem querer, o ódio vira matéria prima de consumo.

O quadro é delicado? Concordo. O que pode oferecer o jornalismo esportivo campineiro em troca? O que ele pode fazer para distensionar o ambiente e ainda encaminhar a renovação do público? Mente a pessoa que diz possuir a resposta. Infelizmente.

(Elias Aredes Junior-foto Marcelo Camargo-Agência Brasil)