Muitos fazem para destruir. Mas a paixão do pontepretano é intransponível

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Eu não vou falar do desempenho da Ponte Preta dentro do gramado. Não vou enumerar erros da diretoria executiva e da Comissão Técnica. Não vou tentar esmiuçar essa estranha vaidade adotada por dirigentes, jogadores e treinadores em cima de uma equipe sofrida, vilipendiada e arrebentadas pelas jogadas de bastidores. Eu me recuso neste texto a falar de classificação e daquilo que está em disputa. Eu quero falar de algo que intriga qualquer pessoa sã: como acompanhar uma equipe que não te dá nada, absolutamente nada em troca?

Eu sei, o discurso é duro. É baseada em fatos. Vamos focar apenas nos últimos 22 anos, desde 2001. Neste periodo, a Macaca alcançou duas finais de Campeonato Paulistas, em 2008 e 2017. Conseguiu disputar uma final de Copa Sul-Americana, uma semifinal de Copa do Brasil, e dois acessos na Série B do Campeonato Brasileiro. E lógico, a conquista do título da Série A-2. São seis instantes de extrema felicidade em 23 anos. Muito pouco.

Do outro lado da moeda, o torcedor pontepretano viveu os rebaixamentos na divisão de elite em 2006, 2013 e 2017, com três presidentes diferentes. Uma prova de que a decepção não tem rosto. Sem contar uma queda no Paulistão de 2022, que produziu vergonha para as arquibancadas. Acrescente uma crise financeira que já dura, no mínimo, seis anos e uma disputa política marcada pela vaidade.

Pare.

Pense.

Reflita.

De modo racional, quem continuaria a acompanhar um clube destruido por uma guerra política que no total não envolvem sequer 100 pessoas diretamente envolvidas? Pois é.

O que explica? Como justificar? Eu só encontro em uma palavra: paixão. Sim, porque pela definição do dicionário, o amor é uma forte afeição por uma pessoa que nasce geralmente por relações. Só que relacionamentos desgastam e diminuem o amor. Produzem feridas. E em muitas vezes o distanciamento é o saldo. Relembre quantos amigos nós tivemos no passado, que tinhamos uma afeição genuína e que na atualidade a vida, as atitudes e as posturas produziram distanciamento? Pois é.

A paixão é diferente. Por definição é um termo que designa um sentimento muito forte de atração por uma pessoa, objeto ou tema. A paixão é intensa, envolvente, e gera um entusiasmo ou um desejo forte por qualquer coisa. O termo também é aplicado com frequência para designar um vívido interesse ou admiração por um ideal, causa ou atividade.

Ou seja, você não vê defeito no objeto de sua paixão. Mesmo quando você não quer aceitar e espera que um dia tudo entre nos eixos. Mesmo que os fatos demonstrem por A mais B que o conserto é quase impossível. Você está lá, impávido, destemido, esperançoso de que algo vai mudar e que a utopia vai virar realidade.

É isso. A atual administração está desconectada e não atende aos anseios do torcedor. O treinador se expressa mal e monta um time que, na maioria dos jogos, não agradou. Uma equipe que em nenhuma rodada ficou entre os dez primeiros colocados. E mesmo assim, todos internamente parecem que não querem baixar a crista e dizer uma simples frase: “Desculpem, eu errei”.

Mesmo assim, o torcedor não desiste. Porque a Ponte Preta não tem o futebol como seu alicerce. O que lhe sustenta é a paixão das arquibancadas. Que acredita que um dia, qualquer dia, a vaidade será definitivamente derrotada e a redenção virá em forma de conquistas.

É comovente. É arrebatador. No fundo, é o que faz o futebol ser a modalidade de bilhões. E neste universo os pontepretanos são especiais. Sorte dos dirigentes. Eles nem mereciam. Mas desfrutam desta dádiva.

(Elias Aredes Junior com foto de Marcos Ribolli-Pontepress)