Os 70 anos de Dicá e de uma Campinas que não volta mais

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Oscar Salles Bueno Filho, apelido Dicá completa nesta quinta-feira (13) 70 anos de idade. É o maior jogador da história da Ponte Preta. Integrante do elenco campeão da Divisão de Acesso de 1969 e  participante das trajetórias dos Paulistões de 1970, 1977, 1979 e 1981. Formou gerações de torcedores. Fez gols inesquecíveis e partidas memoráveis.

Conversar ou trocar ideias com Dicá é relembrar de uma Ponte Preta forte, destemida e parece perdida no passado.

O camisa 10 pontepretano é a fotografia de um período em que a Macaca tinha dirigentes fortes, sábios e corajosos. Criativos e eficientes na medida certa. Todos eles representados na figura de Pedro Antonio Chaib, o Peri, cuja formação do futebol amador foi essencial para desequilibrar nos corredores do Majestoso.

Comemorar os 70 anos de Dicá é projetar um tempo em que a Ponte Preta abria espaço para o surgimento de treinadores renomados e fincados na cidade de Campinas. Eles sabiam o que era a Ponte Preta. Em 1970 Cilinho era o comandante. Um treinador tão diferenciado que existia uma ala política dentro do clube apelidada de Cilinistas. De Zé Duarte nem precisamos esticar o assunto. Carinhoso, capacitado e condutor das campanhas de 1977 e 1979 sempre teve relação carinhosa com o mestre. Pergunto: técnicos exitosos na Macaca nesta década, como Guto Ferreira, Gilson Kleina e Jorginho exibem uma ligação tão umbilical como tiveram Zé do Boné e Cilinho? A resposta é não.

A cada homenagem, carinho ou troféu recebido por Dicá, a Ponte Preta e seu torcedor realizam uma viagem no tempo. Recordam do período do Majestoso lotado, mobilizado e sedento por vitórias. Uma trajetória coroada por uma estatística: Dicá perdeu apenas três dérbis. Álibi indestrutível para idolatria.

Dicá é  uma Campinas que não volta mais. A cidade pronta para discutir futebol no Largo do Rosário, Café Regina até a madrugada. Uma cidade reconhecida no Brasil por sua postura oposicionista ao regime militar, vanguarda na produção científica por causa da Unicamp e que abria as portas para uma migração de gente de várias partes do país. E que por vezes abraçam os dois times de Campinas. Não se iluda: Dicá fornecia motivos para o recém-chegado converter-se a Macaca.

Este senhor de 70 anos pode falar aos quatro ventos: eu sou parte da cara de Campinas. De uma Campinas que dá saudade. Em que todos eram felizes e sabiam. Parabéns Dicá.

(artigo escrito por Elias Aredes Junior)