Por que a diretoria da Ponte Preta não é obcecada pelo acaso?

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Lidar com a paixão é o ofício do jornalista esportivo. Incutir razão em algo que é pura emoção. Dizer verdades e conceitos duros. Todas as torcidas tem dificuldade em entender o trabalho de quem analisa e comenta. Quando somos apaixonados não vemos defeitos e multiplicamos as virtudes. Agora, quem tem o microfone, o laptop e o bloco de anotação na mão necessita em dado instante colocar-se no lugar de quem sofre, de que encontra-se decepcionado e em desalento. Esta é a missão dos profissionais de imprensa que atuam em Campinas: pensar e imaginar o sofrimento do torcedor pontepretano.

Ameaçado de rebaixamento? Não. Existe algo muito mais grave. Se o futebol tivesse uma Constituição, um conjunto de leis para determinar os direitos e deveres dos personagens dos envolvidos no espetáculo, certamente a cláusula primeira seria mais ou menos nestes termos: “Deverás sonhar com títulos e conquistas para aumentar o seu orgulho e satisfação”. Pois esse é o drama. O pecado da atual diretoria pontepretana é sua relutância em aceitar e compreender o desejo de quem está na arquibancada.

Esqueça os gigantes. Eles são milionários, dotados de infra-estrutura gigantesca e acostumados a vitórias. Neste contexto, clubes como Paulista de Jundiaí, Santo André e Juventude obtiveram a conquista da Copa do Brasil em virtude do tempero mais saboroso do futebol, o acaso. É o acaso que transforma times médios e pequenos em campeões, é o acaso o responsável por produzir heróis e vilões no gramado em escala industrial e o imponderável faz com que todos os domingos milhões fiquem vidrados na telinha seja para assistir aos jogos ou para acompanhar os programas esportivos.

Sim, o acaso é um sorteio promovido pelo destino. Pode aparecer no Brasileirão, Copa do Brasil, Paulistão…

Destinado a poucos. Só que é preciso buscá-lo. Lutar com todas as forças. Vislumbrar as brechas disponíveis e colocar a alma para transformá-la em realidade.

Em 2001, o Atlético-PR era reconhecido por um clube sedento de galgar novos estágios e faltava oportunidade. Até que chegou o Brasileirão, o atropelamento em cima de São Paulo e Fluminense no mata-mata e a conquista do título após o triunfo sobre o São Caetano. E por que? Qual foi o segredo? Simples: o polêmico presidente Mário Celso Petraglia, em um instante de desalento após perder de goleada para o Coritiba estabeleceu um plano de modernização e de busca de um título nacional para igualar-se ao oponente, vencedor da competição nacional em 1985. Ou seja, ele procurou, lutou e planejou ser agraciado pelo acaso.

Faça um corte no tempo. Desembarque em 2016. Faça um retrospecto da atual diretoria. A gestão é boa? Sim. As contas estão em dia? Com certeza? A disparidade de cotas atrapalha para igualar-se aos gigantes? Não há dúvida. Duro é verificar que tal fator, ao invés de servir como incentivo de superação e buscar uma surpresa, parece ser um combustível de apatia. Afinal, o que temos à disposição? Um presidente de honra (Sérgio Carnielli), que merece todas as homenagens possíveis e imaginavéis, mas que parece a cada dia mais intolerante com críticas; um presidente de fato e de direito imerso na questão administrativa, com feitos êxitos para comemorar na área, mas sem tempo para conversar e dialogar com o torcedor.

 Vanderlei Pereira infelizmente não entendeu que seu cargo tem força política. E como tal deve utilizar a imprensa, as redes sociais e até o site oficial para prestar contas e vender esperança na seguinte linha de raciocínio: “Reconhecemos que é dificil alcançar o tão sonhado titulo mas vamos nos esforçar para que uma hora aconteça”. Perceba: você não ficaria comprometido em ganhar torneio A, B ou C. Nada disso. Só deixaria de modo claro sua ambição de lutar com todas as suas forças para isso acontecer. O que acontece é o contrário. Os gabinetes pontepretanos pensam em números, superávits, balanços exitosos e programações criativas. Nada de obsessão em chegar no topo.

No departamento de futebol, o quadro é ainda mais delicado. Não existe ambição ou esperança de médio e longo prazo. O discurso é defensivo, na retranca, cheio de justificativas. Tudo na ponta da língua. Em dado momento o time é jovem, em outro a arbitragem prejudicou ou não há como competir. Eu, como jornalista compreendo. Agora, coloque-se no lugar de quem torce pela Nega Véia. Uma hora você não ficaria cansado e esgotado por tantas promessas não cumpridas? Pois é.

Sim, existe o acerto da diretoria e do departamento de futebol de renovar o compromisso de Eduardo Baptista. Mas isto precisa vir acompanhado de algo precioso: a sede de buscar o favorecimento do acaso. Sem esse ingrediente não há quem possa ajudar. Nem Eduardo Baptista.

(análise feita por Elias Aredes Junior-foto assessoria CAP)