Seleção Brasileira: é preciso saber perder. Alguém aprendeu?

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Não há como evoluir sem olhar os nossos defeitos e aplaudir as virtudes daqueles que nos superaram. Nem sempre a postura é aplicada no futebol.

Após a desclassificação da Seleção Brasileira para a Croácia, as redes sociais foram invadidas por uma avalanche de julgadores do trabalho do técnico Tite. Na visão destes torcedores, o técnico escalou mal, substituiu pior ainda e vacilou na hora de montar a lista de cobradores de pênaltis.

Sim, isso é verdade. Só que está longe de ser o foco principal do enredo ocorrido no Catar. Por que se Tite errou em 2022 e 2018, também é verdade que Luiz Felipe Scolari cometeu equivocos em 2014, Dunga teve decisões erráticas em 2010 e Carlos Alberto Parreira vacilou em 2006.

Em todas essas ocasiões, o torcedor brasileiro e a maioria da crônica esportiva brasileira teve um erro em comum: julgamento pronto e sumário do treinador e apagamento das virtudes exibidas pelo adversário de ocasião. É como se fosse uma realidade paralela, em que tudo é fruto de uma grande conspiração para tirar o hexacampeonato do Brasil. A exceção foi em 2006, pois foi impossivel ignorar a exibição de gala do camisa 10 francês.

Em 2022, o brasileiro, em sua maioria, não enxergou o óbvio: a Croácia definiu uma estratégia e uma maneira de jogar. Cumpriu à risca e foi exitosa. Anulou a velocidade de Vini Junior, impôs dificuldades para Neymar e de quebra proporcionou liberdade para Modric atuar em altissimo nível. Mérito total do técnico Zlatko Dalic, técnico da Croácia. Trabalho impecável. Por que é tão dificil reconhecer que um trabalho é melhor do que o nosso?

No dia anterior ao jogo do Catar, o que se viu foi um desaparecimento parcial da Croácia do noticiário da maioria dos veículos de comunicação brasileiros. Era como se o time adversário não existisse. E que o jogo de quartas de final fosse um rito de passagem. Não era. A adversária é a atual vice-campeã mundial e agora vai medir forças com a Argentina.

A lição da Copa do Mundo do Catar para a Seleção Brasileira? No gramado, humildade e pé no chão nunca é demais. Sempre. Fora dos jogos, trabalho incessante e cuidados redobrados com a imagem seriam de bom bom. 

Mais: em um futebol moderno, dinâmico, em constante mutação possuir cinco titulos mundiais pode ser ótimo para ostentar na sala de troféus, mas no gramado significa muito pouco.

Precisamos de técnicos que fiquem cada vez mais próximos do nivel de trabalho do continente europeu. Os jogadores, por sua vez,  além de sustentarem o espirito coletivo demonstrado na Copa do Mundo, precisam transportar o conhecimento tático adquirido nos principais centros de futebol. Técnica e habilidade são insuficientes em um torneio traiçoeiro como a Copa do Mundo.

E os torcedores? Qual o papel reservado a essa massa ávida pela sexta estrela? Entender que na vida muito mais importante do que saber ganhar é perder com altivez e lucidez. E reconhecer quando alguém é melhor. Sem adoção deste caminho, não há esperança de evolução de dias melhores. Nem no futebol e na vida.

(Elias Aredes Junior com foto de Lucas Figueiredo\CBF)