Neste dia da Independência não existe conceito mais valorizado do que a detecção do sentimento de autoestima de um povo. Saber do seu potencial, limitações, características e ter orgulho do que pode ser feito e produzido. Advogado reconhecido na cidade de Campinas, o advogado Pedro Maciel Neto acredita que a Ponte Preta é acometido de um complexo de vira-lata que impede seu crescimento no atual Campeonato Brasileiro. Bingo.
Para quem não conhece a expressão, ela foi cunhada pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues antes da disputa da Copa de 1958. Após o vice-campeonato mundial de 1950 e a traumática desclassificação para a Hungria na Suíça, em 1954, o torcedor brasileiro não tinha a mínima fé no escrete escolhido por Vicente Feola.
Apesar da presença de Pelé, Garrincha, Didi, Zagallo e Vavá. Eram ídolos nos seus clubes, mas poucos consideravam capazes de encarar os gigantes europeus. Nelson Rodrigues viu o cenário e cunhou a expressão. Porque por mais amoroso e bonito que seja um cachorro vira-lata, ele fica em segundo plano diante da beleza e portentosidade de raças puras.
Ou seja, a Ponte Preta transmite ao seu torcedor um sentimento de derrota e de inferioridade mesmo antes de entrar em campo. Detalhe: um fenômeno registrado com o time com estrelas do porte de Lucca e Emerson Sheik. Ou um cara como Renato Cajá no banco de reservas. O que acontece?
Simples: a valorização tem que ser trabalhado a partir de quem está no topo. Utilizar a imprensa e as redes sociais para defender a qualidade da equipe e colocar em dúvida o conceito construído pelo torcedor de que nada presta ou tem utilidade.
É o dirigente, treinador e o executivo de futebol que primeiramente devem enaltecer as qualidades escancaradas e produzir otimismo de que os atletas sem brilho podem retornar aos dias de glória. Sem contar a necessidade de declarações que renovem dia após dia a confiança no trabalho do treinador. Não quer falar com jornalista? Tudo bem. Então use declarações oficiais no Facebook, Instagram ou até no twitter para renovar sua crença em dias melhores. Ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil executava tal tarefa com maestria.
O que temos na atualidade? O técnico apanha em praça pública. O gerente de futebol idem. Alguns jogadores são massacrados. E ninguém defende. Automaticamente, a confiança vai para o ralo. O torcedor critica, arrebenta e como não tem o contraponto passa a acreditar piamente que sua equipe é a pior do mundo e que não há chance de retomada. Autoestima destruída e arrebentada.
Pergunto: do que adianta um cofre cheio de dinheiro (leia-se exaltação do superávit e das contas em dia) sem amor e confiança? Seria o mesmo um pai de família enaltecer que tem dinheiro na poupança, carro na garagem, mas não troca uma palavra com a esposa e os filhos.
Para vencer o São Paulo, a Macaca não precisará apenas dos gols de Lucca e de Emerson Sheik ou da eficiência de Marlon e Luan Peres. O craque amor próprio precisa ser arregimentado com urgência. E isso só quem detém a caneta ou comanda o futebol poderá fazer.
(análise feita por Elias Aredes Junior)