Na última semana, este jornalista do Só Derbi fez uma seleção dos piores de todos os tempos de Guarani e Ponte Preta. Claro, na sua opinião. A lista com jogadores limitados gerou controvérsias. Por aqueles que foram lembrados ou excluídos. Alguns atletas lembrados ganharam defesa entusiasmada de internautas. Dos dois lados.
Apesar de gordo e fora de forma em 1999, Badico recebeu certa resistência, assim como do lateral-direito Marco Antonio e do atacante Niquinha.
Na Ponte Preta, a colocação dos nomes de Dionísio e Ricardo Conceição recebeu uma saraivada de ataques. “Não deveriam encontrar-se ali”, era o argumento preferido.
Outros contestaram até a divulgação da lista. Oportunista, fora de propósito ou até colocaram sob risco a credibilidade do profissional.
Considerei interessantes tais reações porque no fundo exibem duas facetas difíceis de serem aceitas pelas duas torcidas. Independente da divisão em que estejam inseridos.
A primeira é a adaptação ao padrão da mediocridade. O torcedor campineiro perdeu o padrão de qualidade. Não consegue mais distinguir o que é bom ou ruim. Pior: contenta-se com pouco. Vivemos períodos com times com quatro, cinco, seis atletas decisivos. Hoje, contenta-se com um ou dois, no máximo.
Marco Antonio, por exemplo, era um lateral limitado e com sérias dificuldades para cruzar uma bola. Niquinha idem. Ricardo Conceição poderia ser voluntarioso, mas errava passes aos borbotões. Tanto que quando foi embora muito torcedor pontepretano comemorou. O mesmo caso de Dionísio. Quando sua escalação era anunciada antecipadamente por rádios e jornais cansei de presenciar amigos revoltados. Todos estes atletas receberam advogados de defesa entusiasmados.
Por que na atualidade, o sentimento é de solidariedade? Por que infelizmente as duas equipes ano após ano exibem tantos jogadores limitados que as vezes o que era péssimo no passado fica ruim no presente. Isso não quer dizer que seja bom. Longe disso. Pergunto: esses jogadores receberiam tamanha compaixão no auge do futebol campineiro na década de 1970? Duvido.
No fundo, no fundo, essa atitude de querer “salvar” atletas de uma seleção dos piores também demonstra um perfil de nossos tempos: a ditadura do individualismo. Queremos impor nossas vontades e desejos. No futebol tal aspecto fica latente. Temos a nossa visão dentro da mente e se algo foge ao modelo pré-estabelecido tratamos de massacrar o interlocutor. Só damos credibilidade em quem concorda conosco. Para completar, uma parte (parte!) das duas torcidas decidem viver uma realidade paralela, alienada, em que os erros e equívocos são ignorados em nome de uma normalidade que por vezes está longe de acontecer.
Esquecem de algo básico: a lista de piores de Ponte Preta e Guarani é apenas uma amostra de como os dirigentes bugrinos e pontepretanos, afeitos a empáfia e a vaidade, erraram aos borbotões nos últimos anos. Muitas vezes com o silêncio complacente dos torcedores, formadores de opinião, dirigentes e até de parte da mídia. Um dia muda.
(análise feita por Elias Aredes Junior)