Quem tem direito de torcer pela Ponte Preta?

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Redes Sociais transformaram a maneira de ver, sentir e acompanhar o futebol. Assim como tinha acontecido quando ocorreu a massificação das transmissões de rádio e televisão no começo do Século 20. É um fenômeno presente para todas as equipes. Torcedores sequer perceberam a mudança de parâmetro. Adotam uma postura violenta e até de discriminação sem motivo aparente.

Tal ponto chamou minha atenção em uma postagem da filha do treinador Zé Duarte, a psicóloga Claudia. O depoimento dela merece destaque: “Sigo a Ponte Preta nas redes sociais.E estou em.alguns grupos de torcedores também. Pelo que eu leio em alguns posts, torcedores comoeu São desnecessários: não frequento o Majestoso ,não assino o premier(pay per view). Se eu estiver com vontade eu acompanho a Ponte pelo rádio! Que tempos difíceis nós vivemos. Tempos em que o torcedor de verdade é só aquele que respira Ponte Preta 100% do tempo! Desanima! (…)”, disse.

Na mosca. A psicóloga mostra em uma simples postagem que parte da torcida pontepretana incorporou algo maléfico: a elitização. Porque o sentido da palavra é que poucos tenham acesso a determinados processos. Pela sua descrição e ao ouvir torcedores parece que existe um “portifólio” para ser torcedor da Ponte Preta: frequentar o estádio, ser sócio torcedor, pagar mensalidade do Pay per View e acompanhar o time as 24 horas do dia. Não há espaço para quem não tem recursos para pagar um ingresso ou uma assinatura de TV a cabo. Ou para quem vai sazonalmente ao estádio. Nada disso. Ou enquadra-se no modelo ou está fora.

O pensamento exclui alguns conceitos básicos. Queiramos ou não, as redes sociais vieram para ficar e são influentes. Basta dizer que o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez campanha eleitoral, governa e relaciona-se com a população por intermédio do Twitter. A medição de popularidade do trabalho de diretor ou treinador tem que ser medida sim a partir dos grupos de Facebook, twitter e Instagram. Isso é na Ponte Preta, Corinthians, Flamengo ou qualquer clube relevante do Brasil.

O aspecto mais grave é o fato de que alguns torcedores pontepretanos esqueceram o DNA da sua paixão. Em 117 anos de existência, a Ponte Preta foi conhecida por sua inclusão, nunca por desprezo a qualquer camada da população: negros, brancos, pobres, ricos, médicos, jardineiros…Todos foram recebidos de braços abertos nas arquibancadas duras do estádio Moisés Lucarelli.

O que impede de transportar esse conceito no Século 21? O que diminuiu um torcedor desabafar na internet ou escrever uma mensagem de Whatsapp aos amigos? O que fazer com quem ganha mal e só tem opção de acompanhar a Ponte Preta pelo rádio? Desprezamos? Jogamos fora? Nada disso. É preciso entender e respeitar esse estilo de torcedor.

Em um instante marcado pela instabilidade no gramado, não é de bom tom descartar quem tem amor pela camisa e deseja apenas exercê-lo da maneira que desejar. A Ponte Preta precisa de tudo e de todos. Em qualquer hora e lugar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)