A dura realidade: a agressão nos jogadores pontepretanos em Viracopos era uma tragédia anunciada. E ninguém se tocou!

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A largada deste artigo será para expor o óbvio: a agressão de torcedores da Ponte Preta contra jogadores e integrantes da comissão técnica é repugnante. Nota zero. Todos devem ser punidos e processado a luz da lei. Sem perdão. Violência não foi e nunca será solução para nada. Ponto. Dito tal conceito, a hora é de reflexão. Pensar: o que levou a Ponte Preta a viver este clima ? Por que algumas pessoas tomaram a decisão equivocada de considerar como saída a agressão gratuita? Existe saída? Qual?

É preciso dizer que ato violento tem uma semente. Geralmente não é a violência e sim uma atitude ou postura que provoca repulsa do outro lado. Ou ausência de sintonia. Reflexo de uma sociedade autoritária e sem nexo. No livro “A violência no Futebol-Novas Pesquisas, Novas ideias, Novas Propostas”, de autoria de Mauricio Murad, o quadro é sintetizado de modo claro: “A violência que se manifesta no futebol não é apenas o resultado daquilo que acontece nos estádios; embora isto também contribua, ela tem sua origem em questões mais profundas, de ordem social ampla. Os principais exemplos dessas questões são o desemprego e o subemprego, a falta de uma educação efetiva e de qualidade, uma cidadania de baixa qualidade (falta de consciência social de valores coletivos, culturais, políticos, éticos) (…)”

Não precisamos alongar muito. Não basta criticar (com razão) os atos de selvageria no aeroporto de Viracopos. É preciso compreender o processo e os fatos que levaram a tal estado de coisas.

Quem acompanha as redes sociais de torcedores pontepretanos sabia que a temperatura estava altíssima desde a noite de domingo. Não só pela derrota para a Chapecoense e a entrada na zona do rebaixamento, mas pelo entendimento de boa parte dos torcedores dos acontecimentos que geraram tal quadro. Um presidente distante, sem conexão com as arquibancadas, um diretor de futebol ausente que não dá explicações convincentes e um gerente de futebol malhado dia e noite e que, apesar da sua comprovada honestidade e boa intenção sempre adota o discurso da manutenção. Não tem a ambição como ativo de conduta. A revolta das arquibancadas vem como brinde.

Durante estes meses, mesmo nas piores derrotas nenhum dirigente aparecia para dar explicações ou expor otimismo sobre o futuro. Dizer ao torcedor que dias melhores seriam vividos. Pior: na reapresentação após a derrota para o Sport por 3 a 1 e uma péssima atuação na Copa Sul-Americana não foi suficiente para os dirigentes. A entrevista coletiva ficou a cargo do atacante Felipe Saraiva.

Vivemos um tempo de símbolos. As atitudes falam alto. A torcida da Ponte Preta compreendeu que tais posturas são desleixo, desprezo e falta de consideração não só com o time, mas também com a própria coletividade. Uma comunidade acostumada a dirigentes com comunicação direta como Pedro Antônio Chaib, Lauro Moraes, Sérgio Abdalla e até o presidente de honra e afastado pela Justiça Sérgio Carnielli. Hoje, o que ela vê é silêncio.  

Resumo: a falta de comunicação virou ativo e o cenário ficou armado para inconsequentes colocarem as manguinhas de fora. O pensamento destas pessoas é óbvio: já que a diretoria não conversa conosco e não faz os atletas se entregarem de corpo e alma, vamos fazer “justiça” com as próprias mãos. Um descalabro. Essas pessoas dão margem a discursos equivocados e toscos, como a de culpar a oposição por todos os males que acontecem na Ponte Preta. Um argumento que beira ao risível diante da falta de profundidade.

Pergunto: qual a diferença existente para locais em que o estado não é presente, seja com polícia ou com qualquer outro aparato e traficantes ou bandidos adotam o seu próprio padrão de justiça? Não, não comparo as pessoas que foram infelizes no aeroporto de Viracopos com aqueles que atormentam nosso dia a dia.

Só que a semente é a mesma. Se fosse um país de fato e direito, o torcedor pontepretano sentiria que seu presidente não governa com autoridade, tem sua credibilidade arranhada e não se sente amparado quando seus direitos são lesados. A maioria adota o caminho da via democrática para trocar o comando por intermédio de eleições. Uma minoria trilha o caminho deplorável da violência. E ainda recebe aplausos. Quem será o estadista a propor a paz, o diálogo? Por enquanto a lacuna é presente. Sem hora para ser ocupada. 

(análise feita por Elias Aredes Junior)